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A complexidade feminina

Precisamos de mais séries de TV escritas e dirigidas por mulheres

Por Manoela Miklos
Atualizado em 15 fev 2019, 21h50 - Publicado em 15 fev 2019, 07h00

A série americana Boneca Russa, criada por Natasha Lyonne, Amy Poehler e Leslye Headland, estreou agora em fevereiro na Netflix. Sucesso de público e crítica, virou queridinha de milhões em todo o mundo. A trama começa no aniversário de 36 anos de Nadia, protagonista interpretada por Natasha, e segue a princípio um caminho que lembra inevitavelmente o filme Feitiço do Tempo. Nadia morre inúmeras vezes e sempre retorna para o mesmo momento: a sua festa de aniversário. Nesse ritmo, revelam-se as várias dimensões da personalidade da protagonista. Espectadoras e espectadores se afeiçoam rapidamente a Nadia, uma mulher inteligente, de humor cáustico.

Muito pode ser dito a respeito de Boneca Russa, mas evitemos spoilers. Interessa-nos aqui especialmente observar o que distingue a protagonista da grande maioria das personagens femininas que vemos por aí. Nadia é sensual sem um pingo de vulgaridade. É brilhante tanto nas reflexões que desenvolve sobre si e o mundo ao seu redor quanto nas tiradas hilárias, cheias de referências pouco óbvias. Nadia é uma mulher repleta de camadas, como todas somos. Contudo, são raras as obras que nos retratam assim, complexas e sofisticadas. Por que não vemos mais Nadias na televisão ou no cinema? O que faz dela uma personagem instigante e singular?

A resposta é simples: não vemos muitas Nadias nas nossas telas porque temos poucas mulheres assinando projetos ambiciosos como Boneca Russa. A desigualdade de gênero está presente também nas produções audiovisuais. E esse não é um fenômeno exclusivamente dos Estados Unidos. De acordo com a plataforma brasileira Mulheres Audiovisual, uma pesquisa publicada em 2014 pelo instituto Gemaa sobre a produção audiovisual no Brasil constatou que apenas 14% dos filmes produzidos aqui são dirigidos por mulheres. Esse dado se torna ainda mais assustador quando descobrimos que, entre essas diretoras, não há uma única negra. A escassez de mulheres comandando produções audiovisuais implica, infelizmente, escassez de personagens femininas que façam jus à profundidade das mulheres reais.

Boneca Russa é uma série criada por mulheres, escrita por mulheres, dirigida por mulheres. O resultado é evidente. Nadia é intensa. Aguda às vezes, suave em outros momentos. É alguém distante das personagens femininas simplórias que nos acostumamos a ver, lamentavelmente.

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“Querer ser livre é também querer livres os outros.” A plataforma Mulheres Audiovisual, em seu site, apresenta-se com a frase certeira de Simone de Beauvoir. Precisamos de mais mulheres no comando em todos os espaços de poder. Inclusive — e principalmente — no que diz respeito às imagens do que é ser mulher que consumimos. Que povoam nosso imaginário. Precisamos de mais mulheres tecendo ideias sobre o feminino e o feminismo em todas as mídias. Só assim nos libertaremos todas e todos de concepções equivocadas sobre todas e todos. Sem isso, estaremos fadadas e fadados a representações rasteiras do que somos e do que podemos ser.

Publicado em VEJA de 20 de fevereiro de 2019, edição nº 2622

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