A babá sempre perfeita
Em 'O Retorno de Mary Poppins', Emily Blunt e Lin-Manuel Miranda retomam com graça as aventuras do filme de 1964
No início dos anos 60, Walt Disney teve de fazer uma longa corte à escritora australiana P.L. Travers (1899-1996) para que ela concordasse em ceder-lhe os direitos de adaptação da história de uma babá que desce dos céus de Londres na ventania e, com seu jeito a um só tempo austero e brincalhão, devolve a alegria aos pequenos Jane e Michael Banks, deixados de escanteio pela frieza do pai. Travers não ficou satisfeita com o resultado (consta que satisfação não fazia parte de seu repertório emocional), mas Disney sim — e muito: o musical Mary Poppins, de 1964, é um dos maiores sucessos da história do estúdio. É óbvio então que, em plena reciclagem de seu catálogo com as novas versões de Cinderela, A Bela e a Fera, Mogli, Dumbo, O Rei Leão e por aí vai, a Disney convoque à ativa também a babá mágica, para cuidar dos três filhos do agora crescido, viúvo e quase falido Michael Banks, em O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns, Estados Unidos, 2018), que estreia no país nesta quinta-feira.
Emily Blunt, uma das atrizes mais competentes e versáteis da sua geração, sai-se muito bem no papel que Julie Andrews consagrou — sua voz, embora não cristalina como a de Julie, é melodiosa. Como o parceiro de aventuras da babá e das crianças, o astro da Broadway Lin-Manuel Miranda, do premiadíssimo espetáculo Hamilton, leva larga vantagem sobre Dick van Dyke (que faz uma ponta na nova versão), e Colin Firth se esbalda como o banqueiro que quer tomar a casa aos Banks. A produção é impecável, e a direção de Rob Marshall, de Chicago, cheia de entusiasmo. Até demais, em especial considerando-se que seu alvo principal são as crianças: com treze canções cantadas de fio a pavio e 130 minutos de duração, este Retorno às vezes parece eterno.
Publicado em VEJA de 19 de dezembro de 2018, edição nº 2613