No primeiro dia da segunda fase do vestibular da Fuvest, neste domingo, muitos alunos saíram reclamando da dificuldade do exame, principalmente, do tema da redação. Para o professor de Português do Anglo Vestibulares Eduardo Calbucci, os candidatos têm razão. Ele acredita que as dez questões, divididas em subitens, e a redação com um tema subjetivo tornaram essa prova mais complicada que as dos anos anteriores.
O ponto mais debatido do exame foi a redação. Após listar quatro pequenos textos sobre “a cultura do sacrifício” e do pensamento a longo prazo, os elaboradores da prova acrescentam um comentário resumindo-os e encerram com a pergunta, que deve ser respondida em forma de dissertação pelo aluno: “O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?”
Apesar de reconhecer a dificuldade da análise, o professor Calbucci elogia o questionamento. “O tema não era simples e sempre que é cobrada uma discussão de natureza abstrata é mais difícil para o aluno, mas a Fuvest também facilitou a vida dele”, comenta. “Nos quatro textos há uma condução ao que deve ser feito e, na pergunta, há o fechamento do que desejavam, reduzindo as possibilidades de caminhos na dissertação”.
Calbucci afirma, porém, que havia várias saídas para a resposta. “Talvez o caminho mais fácil fosse dizer que não há mais esse lugar [para o altruísmo e o pensamento a longo prazo no mundo contemporâneo], mas nada impede de alguém adotar uma postura mais otimista”, destaca. “O que vai ser avaliada é a qualidade da argumentação”
Trabalhosa – O professor ressalta que essa foi a prova mais longa da Fuvest, que não tem o hábito de incluir muitos itens nas questões dissertativas. No exame deste domingo, por causa das subdivisões das dez questões, o candidato teve que dar 21 respostas dissertativas, fora a redação. “Isso a tornou mais extensa, o que paro aluno cria uma noção de dificuldade maior”, considera. Para ele, as questões mais difíceis foram os itens “b” das questões 2, 3 e 6 e toda a 4. “O número de itens difíceis também foi maior”, comenta.
No entanto, o professor considerou excelente a prova da Fuvest, que utilizou textos publicitários, jornalísticos, musicais, poéticos e teóricos para embasar as questões. “Foi exemplar o uso dessa variedade de gêneros que circulam na sociedade, para ser analisada a competência geral de leitura e o conteúdo, sem decoreba”, diz. “A prova cobrou o que o aluno realmente precisa saber para entrar na universidade e deixou a avaliação do conhecimento gramatical para a redação”.
Neste domingo, 35.144 vestibulandos fizeram a redação e questões de literatura, gramática e interpretação de texto. Na segunda-feira, é a vez de matemática, história, física, geografia, química, biologia, inglês e temas interdisciplinares. No último dia de prova, terça-feira, serão doze questões, de igual valor, de duas ou três disciplinas, dependendo da carreira escolhida pelo candidato. O índice de abstenção foi de 7,88% do total de 38.151 convocados, a maior porcentagem de faltosos nos últimos 11 anos.