Promovido por VEJA.com e Fundação Estudar, o Prêmio Jovens Inspiradores pretende revelar líderes para o Brasil. Ao longo de 2012, selecionou estudantes ou recém-formados com espírito de liderança e compromisso com a excelência. Os vencedores ganharam iPads, bolsas de estudo no exterior e orientação profissional (mentoring)
Em meados do século XX, dois vendedores de uma empresa inglesa de sapatos foram enviados à África para avaliar se havia ali alguma possibilidade de negócio. Quando desembarcou, a dupla percebeu que os africanos estavam todos descalços e não tardou a enviar relatórios contraditórios à Inglaterra. O primeiro vendedor assim descreveu o quadro: “A situação é calamitosa. Ninguém aqui usa sapatos.” O segundo emendou: “A situação é gloriosa. Eles ainda não têm nenhum sapato por aqui.”
O perfil dos demais vencedores do PJI:
Larissa Maranhão, a alagoana que quer construir um país de letrados
Miguel Andorffy, o Salman Khan brasileiro
Para Roger Werner Koeppl, reciclar dá futuro. Cooperar também
Para Paulo Orenstein (assista ao vídeo), de 23 anos, a história ilustra a situação do terceiro setor hoje no Brasil, segmento que reúne as organizações não governamentais (ONGs). “Algumas pessoas olham para as diversas iniciativas existentes, muitas delas fragmentadas, locais e pouco efetivas, e veem nisso evidências da impossibilidade de sucesso. Outras olham essa imensidão de empreendimentos e veem nisso uma oportunidade de criar algo de alto impacto na área social,” diz. Definitivamente, Paulo pertence ao segundo grupo.
Paulo é carioca, graduado em economia por influência dos pais, ambos economistas. Durante o ensino médio, viveu dois anos na Inglaterra. “Esse contraste de mundos me marcou bastante”, conta. “Algumas coisas funcionam lá e não funcionam aqui. Por outro lado, têm coisas que não podem ser transportadas para lá.” Ele tem a mão firme para o desenho e já pensou em ser artista, mas preferiu outra forma de expressão. Hoje, dedica-se a um mestrado em matemática aplicada na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). “A matemática tem um quê de arte que a maioria das pessoas não aprecia. Elas não entendem que você pode fazer matemática e estar o tempo todo olhando para a realidade, se você quiser. É possível fazer a diferença com esse instrumental.” Foi a matemática que o ajudou a olhar para os problemas sociais brasileiros em busca de soluções.
Sua resposta é o NOS – Núcleo de Organizações Sociais, projeto que ele apresentou à comissão julgadora do Prêmio Jovens Inspiradores, após dez meses de provas e seleção – das quais Paulo saiu vencedor. A ideia é criar uma espécie de Facebook das ONGs, um ambiente que permite o compartilhamento de informação e conhecimento. “O setor precisa fazer melhor uso da crescente interação entre cidadãos proporcionada pela tecnologia”, escreveu ele em seu texto de inscrição no Prêmio. “Pense que você ou um amigo seu quer realizar um evento que envolva mais pessoas, como uma festa ou ir ao cinema. Como vocês fariam? A esmagadora maioria das pessoas colocaria a mão no bolso, tiraria um dispositivo móvel e acessaria uma rede social. A ideia é transplantar esse modelo de rede social para o terceiro setor.”
Paulo enumera as vantagens do modelo. A primeira delas é a rápida disseminação de informação. Se uma ONG quer promover uma ação na praia de Copacabana ou no Parque do Ibirapuera, é mais fácil e barato convocar adeptos na internet do que colocar cartazes em postes, por exemplo. Vantagem dois: além de atingir mais rapidamente cidadãos interessados na causa defendida, o NOS permitiria a troca de conhecimento entre as ONGs por meio de fóruns e mensagens privadas. É o chamado crowdlearning ou aprendizado coletivo.
O compartilhamento de experiência traz outro efeito positivo. “Não é raro ver uma ONG de educação e uma ONG de esporte que existem em uma mesma comunidade, mas não se conhecem. Elas poderiam promover uma colaboração muito efetiva, mas não o fazem.” Por fim, a lógica da rede social virtual permitiria a captação de doações com mais facilidade, principalmente para as pequenas organizações que não possuem muitos parceiros e dependem dessas colaborações para sobreviver.
Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna e uma das patronas do Prêmio Jovens Inspiradores, costuma dizer que o terceiro setor tem soluções de varejo para problemas de atacado. “No Brasil, vemos quantidade sem qualidade – ações governamentais de saúde e educação, por exemplo – ou qualidade sem quantidade, que é o que caracteriza hoje o terceiro setor. Nem uma coisa nem outra dão conta do desafio”, constata ela. Paulo quer mudar esse cenário. “O NOS se propõe a aproveitar as iniciativas que já existe e amarrá-las, como nós. É transformar o artesanato social ao qual Viviane se refere em oportunidade. E assim será possível calçar cada par de pés brasileiros que ainda permanece descalço.” Aos jurados, Paulo deixou claro com qual dos vendedores ingleses do início deste artigo se identifica.
Leia mais
PJI recebe mais de 8.000 inscrições
Quem são, como vivem e o que pensam os 10 finalistas
Alto nível dos semifinalistas surpreende jurados
Para ser líder, não bastam boas ideias. É preciso ação
Marina Silva fala sobre os desafios de um líder
Viviane Senna participa de encontro do Jovens Inspiradores
Conheça p perfil de um jovem inspirador
Dinâmica de grupo, um desafio para os semifinalistas
O que os testes dizem dos candidatos
‘Sonhar grande ou pequeno dá o mesmo trabalho’
‘Pense grande, comece pequeno, ande rápido’
Viviane Senna: ‘O Brasil precisa de resultados’
Sofia Esteves: ‘O jovem guia sua carreira por um propósito e por prazer’
Marina Silva: ‘Jovens devem imprimir sua marca no mundo’
Fracassar é primeira lição para aspirantes a líder
Liderança não vem da teoria, mas sim da prática
No lugar das grandes causas, microrrevoluções
‘Mantenha acesa a sua paixão, e nunca desista’
‘Os jovens querem ser protagonistas da mudança’