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O desaparecimento da infância

Nós, adultos, somos testemunhas e cúmplices desse fenômeno

Por Rosely Sayão
Atualizado em 12 out 2018, 07h00 - Publicado em 12 out 2018, 07h00

Helena é uma garota de 10 anos e frequenta, desde os 2, uma escola particular que atende mais de 1 000 alunos. A escola é bastante exigente: desde os 4 anos Helena leva lição para fazer em casa e hoje, depois de passar cinco horas por lá e enfrentar mais de uma hora de trânsito, estuda por mais ou menos duas horas todo dia.

Além de cumprir a rotina escolar, a menina faz balé clássico duas vezes na semana. Ela gosta de dançar, mas não gosta tanto assim de ter de acordar cedo para ir às aulas e reclama para a mãe de cansaço.

Sua vida social é intensa: quase toda semana Helena vai a alguma festa de aniversário de colegas e faz passeios com amigas, em geral ao shopping. Nessas ocasiões, usa roupas semelhantes às que as mulheres usam, com calçado de salto, inclusive. Tem celular e internet no computador que é só dela. Segue diversos youtubers populares entre os colegas.

Tem páginas em redes sociais e, de vez em quando, faz algum vídeo e posta nas redes.

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Quando é chamada de criança, ela fica bem brava. Diz que é pré-adolescente. Mas está à espera de receber um presente no Dia das Crianças. Ela pediu aos pais um tablet de última geração e tem certeza de que será atendida.

Helena — nome fictício — representa milhares de outras crianças que ganharão presentes no dia 12, mas que quase não têm infância. Algumas por múltiplas obrigações impostas pela sociedade e pela família, e outras pela necessidade de trabalhar. Sim, ainda temos a questão do trabalho infantil em nosso país.

Faz tempo que observamos o fenômeno do desaparecimento da infância, e trata-se de um fenômeno global. Aliás, não somos apenas observadores do declínio da infância no mundo atual: somos também testemunhas e cúmplices, ao mesmo tempo. Por que esse fato acontece? Vejamos alguns dos motivos que levaram as crianças a perder a infância.

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Desde a chegada da televisão, e depois da internet nos computadores e dos aparelhos celulares conectados, os mais novos depararam com facetas do mundo adulto que antes não conheciam por estar protegidos delas. Assassinatos — inclusive de crianças —, todos os tipos de crime, apelos sexuais e erotização, brigas violentas por motivos banais, fenômenos brutais e devastadores da natureza etc. chegaram aos mais novos dentro de sua casa. Noticiários de televisão, vídeos e fotos nas redes são os meios mais frequentes pelos quais eles têm acesso a essas situações. E conseguem se defender dessas informações para viver com tranquilidade? Nem sempre.

A extrema valorização, em nossa sociedade, do consumo, da popularidade, do êxito no presente e no futuro, de um determinado tipo de corpo e de vestimentas que formam certa aparência, entre outros valores atuais, também tem grande parte de responsabilidade por colocar crianças e adolescentes na roda- viva do mundo adulto.

Por causa disso, inúmeras crianças já apresentam doenças que, antes, não faziam parte dos quadros comuns dessa fase da vida. Isso sem falar na perda de tempo e de espaço para brincar, que é a maneira que a criança tem de aprender e de ter infância.

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Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604

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