‘Enem dos professores’ deveria avaliar conhecimento e didática
Especialistas afirmam que avaliar o conhecimento do candidato é fundamental. Sociedade poderá contribuir com sugestões para a elaboração do exame.
O MEC abriu uma consulta pública para que a sociedade sugira competências que deverão ser cobradas dos candidatos a professor.
Exame poderá apontar a formação deficitária de muitos docentes.
Com o intuito de tornar o Exame Nacional de Ingresso na Carreira de Docente mais completo, o Ministério da Educação (MEC) abriu uma consulta pública para que a sociedade sugira competências que deverão ser cobradas dos candidatos a professor. Por meio da consulta, especialistas, universidades, estados e municípios podem contribuir, dizendo o que, afinal, um educador deve saber para exercer a profissão.
Especialistas ouvidos por VEJA.com destacam que, para ser eficiente, o exame precisará avaliar de maneira abrangente o conteúdo que os professores devem conhecer para ministrar as aulas. “Afinal, como um professor pode ensinar um conteúdo que não domina?”, questiona Cristina Carvalho, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Para cada ano escolar, deve ser solicitado uma gama diferente de assuntos. “A prova deve cobrar conhecimentos específicos da área em que o professor vai atuar”, destaca Maria Márcia Malavasi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Nesse quesito, o exame poderá apontar a formação deficitária de muitos docentes. Além da baixa qualidade de cursos de graduação, o conhecimento adquirido no ensino fundamental também deixa a desejar. Segundo Cristina, é possível notar que muitos estudantes chegam ao curso de pedagogia sem dominar, por exemplo, noções básicas da matemática. “O problema não começa na faculdade de pedagogia, mas no ensino fundamental”, acredita.
Didática – Os especialistas avaliam também que o “Enem dos professores” tem um problema conceitual. Feito a partir de um único exame escrito, ele dificilmente poderá analisar se o professor tem habilidades para transmitir o conhecimento que demonstra possuir. Ainda que seja possível elaborar questões que simulem situações de sala de aula, isso não garante que o candidato possui boa didática.
“Apenas o exame escrito não cobre o universo da didática. É importante avaliar o conteúdo, mas é preciso também medir se o docente tem habilidades para lidar com aquela faixa etária de alunos com que pretende trabalhar”, diz Maria Márcia, da Unicamp. “O ideal seria avaliar esses dois quesitos separadamente.”
Uma alternativa para contornar esse problema seria obrigar os candidatos a realizar uma aula-prova, ou seja, analisar seu trabalho em prática no ambinente de ensino. Mas essa parece ser uma hipótese pouco prática, dada a extensa rede escolar brasileira.