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À espera de 2022

Como estará a educação brasileira no bicentenário da Independência?

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 6 set 2019, 10h31 - Publicado em 6 set 2019, 06h30

Ao ser criado, em 2006, o movimento “Todos pela educação” estabeleceu como meta incentivar a escola brasileira a uma arrancada de qualidade, até o bicentenário da Independência, em 2022. A cerimônia de lançamento ocorreu em data e local simbólicos: 6 de setembro daquele ano, véspera da comemoração da Independência, no Museu do Ipiranga, o sítio paulistano do “independência ou morte”. Para o desejado avanço, o movimento estabeleceu cinco metas, a começar da necessidade de ter todas as crianças na escola e a terminar com o aumento do investimento no setor. Com empenho, investimento, boas políticas e boa vontade, parecia que daria tempo de cumpri-las. O problema em marcar uma data-limite é que, por mais distante, um dia ela chega. O 7 de Setembro deste ano leva-nos a apenas três do de 2022. Como estamos no cumprimento das metas estabelecidas?

O “Todos pela educação” apoia-­se na união de empresários, educadores, professores, voluntários, empresas e fundações em torno do objetivo de “criar um senso de urgência para a melhoria da educação básica”, como diz o site do movimento. Ao longo dos anos, especializou-se em critérios de avaliação e na elaboração de estudos e projetos voltados para a melhoria da escola brasileira. Entre outras ações, ajudou na aprovação da emenda constitucional que ampliou, em 2009, para a faixa entre 4 e 17 anos a obrigatoriedade de permanência na escola, antes restrita à faixa dos 6 aos 14, e participou da elaboração e tramitação do Plano Nacional de Educação, aprovado no Congresso em 2014.

A primeira e a quinta das cinco metas são as mais fáceis de ser cumpridas, se é que há alguma coisa fácil nesse assunto. A primeira (“Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola”), já no governo FHC, apresentava a marca de 90%. Na época, a exigência constitucional incidia ainda sobre a faixa entre 6 e 14 anos. Em 2017, com a faixa já entre os 4 e os 17 anos, tínhamos, segundo o monitoramento do “Todos pela educação”, 96,4% das crianças e adolescentes na escola, e mais teríamos não fossem as dificuldades situadas nos extremos, entre as crianças de 4 e 5 anos e os adolescentes entre 15 e 17. A quinta meta (“Investimento em educação ampliado e bem gerido”), de seu lado, fixou para 2022 o gasto de 5% do PIB no ensino básico (fundamental + médio). Embora não tenha o dado preciso, a presidente ­executiva do “Todos pela educação”, Priscila Cruz, garante que o objetivo já foi atingido.

Os problemas concentram-se nas metas centrais. A segunda (“Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos”) mostrava, no resultado relativo ao ano de 2016, que só 45,3% das crianças dessa idade apresentavam desempenho aceitável em leitura e 45,5% em matemática. A terceira (“Todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano”) constatava em 2017, em seu mais clamoroso resultado, que só 9,1% dos alunos do ensino médio tinham conhecimento em matemática compatível com a série que cursavam. E a quarta (“Todo jovem com 19 anos com ensino médio concluído”) apresentava em 2018 porcentual de 63,54%, longe de gerar otimismo. (O detalhado monitoramento das metas encontra-se em https://www.todospelaeducacao.org.br.)

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Tudo considerado, restaria prever para 2022 uma grande frustração. Ou haveria espaço para conclusão em contrário? Priscila Cruz, em entrevista ao colunista, não nega a frustração, mas aponta duas razões para otimismo. A primeira são os progressos em medidas governamentais como o Fundeb, a Base Nacional Curricular e o aperfeiçoamento dos sistemas de avaliação. A segunda são os avanços no ensino fundamental 1 (equivalente ao antigo primário). Azar nosso, segundo Priscila, que o Pisa, o sistema de avaliação da OCDE, seja aplicado aos alunos de 15 anos. O foco está portanto no fundamental 2 (o antigo ginásio), etapa que, somada ao ensino médio, compõe a dupla de supremos fiascos do ensino brasileiro. Se o Pisa tivesse por foco as crianças de 11 anos, o Brasil seria, segundo Priscila, “um case de proporções mundiais”. Fixemo-nos nesse dado. Ajuda a pensar num 2022 menos dolorido.

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Deu na Coluna do Estadão, assinada por Alberto Bombig (O Estado de S. Paulo, 2/9/2019): “Todos os dias, ao acordar, o ministro Abraham Weintraub pensa em: ‘1) esculhambar a esquerda; 2) esculhambar a imprensa; 3) resolver os problemas do Ministério da Educação. Nessa ordem’, diz”.

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Uma sexta meta para 2022 seria contar com um ministro da Educação que pensasse primeiro na educação.

 

Publicado em VEJA de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651

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