O ministro Paulo Guedes vem repetindo aos quatro cantos que “o Brasil vai surpreender o mundo” na recuperação da economia depois do impacto causada pela Covid-19. As medidas acertadas do Ministério da Economia na manutenção de empregos e da subsistência dos mais vulneráveis, de fato, colocam o país numa posição favorável em relação à recuperação econômica, passado o pior momento da crise de saúde. Vê-se as pessoas retornando a consumir, os comerciantes reestruturando-se. Mas, vá lá, a “recuperação em V” (que bate e volta ao mesmo patamar) prometida pelo ministro não é tão sólida. Nesta quarta-feira, 14, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, divulgou os dados da recuperação de serviços, que avançaram 2,9% em agosto em relação ao mês anterior. A alta na margem foi impulsionada pelo avanço de serviços às famílias e serviços de alojamento e alimentação. Na média móvel trimestral, a alta foi de 3,6%. No dia seguinte, foi a vez do Banco Central (BC) divulgar o IBC-BR, índice que mede os níveis de atividade econômica do país. Considerado como uma prévia do PIB, o medidor cravou uma alta de 1,06% no mês de agosto também ante julho, um resultado abaixo das expectativas do mercado, que estimava alta de 1,7%.
Assim, passados os escombros, a reestruturação da economia do país mostra-se mais lenta do que a projetada por Guedes. Como o pico da restrição econômica causada pelas necessárias paralisações definidas por prefeitos e governadores deu-se entre abril e maio, os índices de recuperação dos serviços (o setor mais atingido pelo isolamento social) mostraram-se mais robustos nos meses sequentes aos de maiores contenções. Em junho, os serviços registraram alta de 5,3%, e, em julho, de 2,6%, ambos em relação aos meses anteriores. “É normal que isso aconteça, afinal a famigerada recuperação em V da economia quer dizer apenas que voltaríamos para onde estávamos, não que iremos superar os antigos patamares. Ao que tudo indica a velocidade da recuperação irá desacelerar ao longo do segundo semestre”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton.
O cenário não é bom. Apesar de superestimada no começo da pandemia, a retração econômica do país deve superar os 5%, de acordo com o Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central com as expectativas do mercado em relação à draga da economia do país. Depois de 18 semanas de revisões para baixo, acompanhando a escalada do novo coronavírus no Brasil, as projeções do PIB que chegaram a -6,54%, passaram por estabilização em junho e as previsões do PIB passaram a melhorar em julho e agosto com a reabertura gradual das atividades.
O tratamento, é evidente, passa pelas mudanças estruturais do país, assunto paralisado no Congresso Nacional apesar das iniciativas recentes do Ministério da Economia. A reforma administrativa, depois de meses adormecida nas gavetas do presidente Jair Bolsonaro, finalmente foi enviada para o Legislativo, enxugada, é verdade, mas com capacidade de, a partir das adaptações de deputados e senadores, diminuir o tamanho da gastança do país com a máquina pública. A tributária, por sua vez, envolve a defesa apaixonada de Paulo Guedes por um imposto nos moldes da CPMF, que não encontra carinho entre os congressistas, afora a resistência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e as novas discussões em torno do financiamento do programa de renda básica desenhado pelo governo. Outro fator determinante para a imunização da economia brasileira passa pelo avanço das vacinas, que daria mais confiança aos consumidores para voltar às ruas com mais força, e a manutenção de um programa que garanta renda aos mais desassistidos.
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