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Por que a cotação do dólar tem sido tão volátil nas últimas semanas

Bancos centrais ao redor do mundo inteiro demandam menos dólares, o que tem desvalorizado a moeda americana; mas crise política faz real sofrer percalços

Por Felipe Mendes Atualizado em 22 jun 2020, 18h29 - Publicado em 22 jun 2020, 16h44
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  • Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, tem sido a voz que guia os rumos do mercado financeiro nos últimos meses. Sob holofotes em tempos de novo coronavírus, cada palavra de Powell pode ter efeito devastador ou animador para os investidores mundo afora. Na última sexta-feira, seu posicionamento de que a pandemia de Covid-19 ainda é desafiadora para a recuperação econômica global frustrou os mercados. “Vamos tomar o nosso caminho de volta, mas levará tempo e trabalho. A trajetória à frente provavelmente será desafiadora”, disse ele, em videoconferência com líderes locais em Youngstown, no estado de Ohio. Enquanto o melhor dos mundos ainda não acontece, os Estados Unidos imprimem bilhões de dólares para dar fôlego às companhias americanas e evitar um colapso ainda maior para a economia local. Acontece que tal medida tem gerado um efeito dominó de depreciação do dólar frente a todas as moedas do mundo nas últimas semanas, contrariamente ao rali protagonizado pela moeda americana nas primeiras semanas de pandemia.

    “Vidas e sustento têm sido perdidos, e a incerteza parece grande”, reforçou. Suas declarações vão de encontro à opinião do presidente americano, Donald Trump, que acredita que o pior da pandemia já passou para os Estados Unidos. Powell crê que uma retomada econômica só acontecerá quando o país conseguir controlar a disseminação do vírus, que já vitimou mais de 120 mil pessoas em solo americano, segundo a Organização Mundial da Saúde, a OMS.

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    Dados divulgados pelo Fed na última quinta-feira, mostram que os bancos centrais ao redor do mundo estão demandando menos dólares para desafogar suas economias. A menor demanda da moeda americana em três meses foi um fator crucial para um rombo de 7 trilhões de dólares no balanço do Fed – a primeira queda desde fevereiro. O saldo dos swaps cambiais do banco com seus pares no mundo caiu 92 bilhões de dólares na última semana, para 352,5 bilhões de dólares – na semana anterior, esse número foi de 444,5 bilhões de dólares. Essa queda surpresa na arrecadação tem feito o Fed rever sua política de liquidez de emergência e é um sinal claro de que os mercados globais estão voltando ao normal depois de serem fortemente afetados pelo surto de Covid-19.

    “Os Estados Unidos têm neste momento um processo de irrigação, de injeção de liquidez, na economia. Só que isso tem feito a moeda americana perder valor frente a outras moedas”, diz Orlando Assunção, professor de economia da Fundação Armado Alvares Penteado (FAAP).  Seria lógico, portanto, imaginar que o real se valorizasse perante ao dólar, assim como a cesta de moedas emergentes tem sobressaído nas últimas semanas. Acontece que o Brasil também tem seus problemas, que acabam gerando distorções cambiais para cima ou para baixo. Por aqui, a deterioração do cenário político e, principalmente, os recentes recuos da taxa básica de juros, a Selic, têm proporcionado uma alta volatilidade no valor do real. “É como se fosse um cabo de guerra onde você tem forças antagônicas de cada lado”, diz Assunção. “Em determinados momentos, um dos lados se sobressai e, em outros, o inverso se prevalece”.

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    Nesta segunda-feira, o dólar retraiu cerca de 1%, para 5,27 reais. Há uma semana, no dia 15, a moeda encerrou o pregão cotada a 5,142 reais. Poucos dias depois, no entanto, escalou novamente. Com o anúncio de corte da Selic para 2,25% ao ano na quarta-feira 17, o dólar voltou a figurar próximo de 5,40 reais. Agora, segue uma normalização. “Os discursos recentes do Powell e a trégua entre os poderes Executivo e Judiciário no Brasil, costurada pelo Centrão, são os fatores que seguram o câmbio neste momento”, diz Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas. Apesar do mar calmo no horizonte, o efeito sanfona sobre o câmbio não deve ter chegado ao fim. Vai depender dos discursos emanados por Powell, mas também da atuação em Brasília.

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