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Como Trump, rei das redes sociais, foi boicotado por jovens no TikTok

Casa Branca prometeu que primeiro comício em 3 meses reuniria cerca de 100.000 pessoas, mas campanha organizada por adolescentes deixou arquibancadas vazias

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jun 2020, 13h25 - Publicado em 22 jun 2020, 10h36

Desde que se candidatou à Casa Branca, Donald Trump fez das redes sociais a sua principal arma política. Pelo Twitter, dispara ofensas contra adversários e publica opiniões controversas, mas que encontram eco junto ao público conservador americano. O republicano também foi pioneiro ao utilizar a empresa Cambridge Analytica para direcionar anúncios específicos a eleitores indecisos no Facebook. Embora, em muitos momentos, o uso das internet tenha beirado a ilegalidade – Trump é suspeito de ter montado uma rede de fake news para combater a adversária democrata Hillary Clinton -, o rei das redes ganhou as eleições e manteve seus métodos como presidente para mandar recados para o Congresso e disseminar informações de seu interesse.

Por isso, é de se surpreender que, agora, Trump tenha tomado uma surra de um grupo de adolescentes em seu terreno mais conhecido. O republicano pretendia marcar seu retorno à arena eleitoral com um grande comício no sábado 20 em Tulsa, Oklahoma. Em vez de um show de força política, contudo, se deparou com centenas de assentos vazios. Pelo TikTok, grupos de jovens se articularam para confirmar a presença no evento com o propósito apenas mantê-lo vazio, sem de fato comparecer ao comício.

A Casa Branca prometeu que o evento, o primeiro da campanha de Trump em três meses, reuniria cerca de 100.000 pessoas. Mas imagens de televisão mostraram grandes setores com assentos vazios no BOK Center, um estádio que acomoda 19.000 espectadores. O departamento local de bombeiros calculou em apenas 6.200 pessoas o número de espectadores no evento, segundo a imprensa americana, enquanto integrantes da campanha do republicano citaram um público de pelo menos 12.000 simpatizantes.

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A estratégia que minou o evento do presidente foi atribuída a usuários do aplicativo TikTok. Jovens que usam o popular aplicativo de compartilhamento de vídeos afirmaram que completaram o registro grátis para o comício sem a intenção de realmente ir. Com isso, muitos assentos foram reservados, mas acabaram ficando vazios, inflando a expectativa de público estimada pela campanha. O jornal The New York Times relatou que fãs de K-pop, a música pop coreana, encorajaram as pessoas a fazer o mesmo.

Um vídeo publicado pela usuária Mary Jo Laupp no TikTok, com a hashtag #TikTokGrandma, estava ajudando a liderar o movimento. O vídeo agora tem mais de 700.000 curtidas.

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Fãs de K-pop tem atuado em torno do movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam) nas redes sociais nas últimas semanas, sequestrando hashtags que se opõem ao movimento e inundando o aplicativo do departamento de polícia de Dallas que pedia evidências de atividades ilegais durante os protestos.

Expectativa x Realidade

Antes do evento, o gerente de campanha de Trump, Brad Parsacle, afirmou que houve mais de um milhão de inscrições para comparecer. No entanto, a BOK Center Arena estava com vários assentos vazios. Trump e o vice-presidente Mike Pence cancelaram discursos previstos para o “excedente” da multidão que supostamente estaria esperando no lado de fora do local.

A campanha de Trump via o comício como uma maneira de revigorar sua base e demonstrar apoio, em um momento no qual as pesquisas de opinião o mostram atrás do rival, o ex-vice-presidente Joe Biden – o democrata abriu uma vantagem de pelo menos 13 pontos. Entretanto, a baixa aprovação do republicano diante de sua resposta à pandemia de coronavírus e aos protestos contra a violência policial no país parece ter atingido uma parcela maior da população do que era calculado pela sua equipe.

A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez respondeu com escárnio uma publicação no Twitter de um assessor de Trump que culpou a imprensa por desencorajar o público e citou o comportamento ruim de manifestantes no lado de fora. “Na verdade, vocês foram simplesmente DERRUBADOS por adolescentes no TikTok que inundaram a campanha de Trump com reservas falsas de ingressos e os enganaram a acreditar que um milhão de pessoas queria seu discurso supremacista branco o suficiente para encher uma arena durante a pandemia”, escreveu, no sábado. “Aliados do Kpop, nós vemos e agradecemos sua contribuição na luta por Justiça também”, acrescentou.

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O medo de contágio pela Covid-19 também parece ter afastado o público do evento. Oklahoma relatou um crescimento de casos de novo coronavírus nos últimos dias, e o departamento sanitário do Estado alertou os que pretendiam comparecer ao evento que eles corriam risco maior de pegar o vírus.

Além disso, ao menos seis membros da organização do evento de campanha testaram positivo para a doença, acendendo um alerta vermelho entre parte dos apoiadores que haviam confirmado presença.

Uma foto de Trump retornando à Casa Branca após o comício rodou o mundo como símbolo do fracasso do evento. Capturada pelo fotógrafo da Associated Press Patrick Semansky, a imagem mostra o presidente com o rosto abatido, e a gravata aberta e pendurada no pescoço.

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‘Esquerdistas iludidos’

A campanha de Trump negou que o evento de sábado tenha sido um fracasso e descartou as afirmações de que um grupo de usuários do TikTok tenha sabotado o comício. Segundo os funcionários do republicano, a entrada era por “ordem de chegada” e ninguém recebeu um ingresso de verdade.

“Os esquerdistas sempre se iludem que estão sendo espertos. O registro ao comício significa apenas que você confirmou presença com um número de celular”, disse o porta-voz da campanha de Trump, Tim Murtaugh, em um comunicado. “Mas nós os agradecemos pelas informações de contato.” Parscale disse em um comunicado, porém, que retirou “dezenas de milhares” de números falsos de telefone da lista de presença antes de calcular a expectativa de público do evento.

Mercedes Schlapp, assessora da campanha de Trump, disse à emissora Fox News que muitos apoiadores não conseguiram entrar no BOK Center. “Havia fatores envolvidos, como preocupação pelos manifestantes. Havia manifestantes que bloquearam” os participantes, disse Schlapp. “E vimos que isso teve um impacto nas pessoas que estavam participando do comício”, acrescentou.

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Schlapp repetiu uma explicação apresentada no sábado à noite pelo diretor de comunicações da campanha de Trump Tim Murtaugh, que declarou que os manifestantes estavam “bloqueando o acesso a detectores de metal, impedindo que as pessoas entrassem”. Mas jornalistas presentes no evento disseram que não viram problemas no acesso ao estádio.

Na noite de sábado, houve alguma competição de gritos e tumultos no lado de fora do evento entre cerca de 30 manifestantes do Black Lives Matter e alguns apoiadores de Trump esperando para entrar. Embora a polícia tenha temporariamente fechado o acesso aos portões depois que os manifestantes chegaram ao perímetro do comício, tropas estaduais ajudaram a desobstruir a área, e os portões foram reabertos por volta de três horas antes de o comício começar.

Gosto por grandes públicos

Trump tem um tipo de obsessão por grandes multidões e  gaba-se com a presença de público em seus comícios, comparando-os com os de seu rival democrata, Joe Biden. Schlapp zombou de um evento recente de Biden, no qual os organizadores seguiram os padrões de distanciamento social, dizendo que o ex-vice-presidente não conseguiu atrair multidões como Trump fez.

O assessor disse à Fox News que mais de 5,3 milhões de pessoas acompanharam o comício do presidente republicano pela internet. Biden está à frente de Trump em 9,5 pontos nas pesquisas nacionais de intenção de votos, de acordo com uma média do site RealClearPolitics.

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Nas redes sociais, as provocações sobre a participação decepcionante ocorreram em massa, incluindo críticos famosos do presidente, como a cantora Pink.

(Com Reuters e AFP)

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