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Pequeno empresário vive entre a vanguarda e o atraso

Quase um milhão de negócios são criados no Brasil a cada ano, mas a burocracia excessiva ainda emperra o desenvolvimento de muitas empresas

Por Raquel Grisotto
17 set 2012, 12h42
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  • Para onde quer que se olhe, é possível perceber o avanço da iniciativa do brasileiro em fazer negócios – e isso vem acontecendo a despeito de todos os entraves burocráticos que assombram o dia a dia de quem quer montar uma empresa (veja quadro com alguns números do setor). Ao mesmo tempo em que aparece com destaque em rankings internacionais que apuram o interesse e a ação do cidadão em ter um negócio próprio, o país ocupa posições nada invejáveis quando se observam itens mais abrangentes de competitividade. Em um dos estudos mais importantes sobre o tema, o Doing Business, elaborado pelo Banco Mundial, o Brasil ocupa a vexatória 126ª posição no ranking geral dentre 183 países analisados. Está atrás de nações como Rússia (120ª), Egito (110ª) e Gana (63ª). “Tivemos avanços, mas ainda há muito a fazer para tornar o ambiente de negócio mais amigável”, diz Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae.

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    Brasil, um país que empreende
    Brasil, um país que empreende (VEJA)

    A burocracia excessiva, a pesada carga de impostos, a complexidade do sistema tributário e a dificuldade de acesso a crédito – conhecidos pesadelos do empreendedor brasileiro – são alguns dos fatores que mais contribuem para puxar o desempenho do país para baixo.

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    Emaranhado – Não é exagero dizer que o primeiro grande desafio de quem sonha em ganhar a vida à frente de seu próprio negócio no Brasil é formalizar sua empresa. São necessários, em média, treze procedimentos que podem demorar 119 dias para serem finalizados (veja comparativo de PMEs no Brasil e no mundo). O longo caminho a ser percorrido inclui visitas a diversos órgãos públicos para pagamento de taxas, registro da companhia e obtenção de licenças (veja um passo-a-passo de procedimentos obrigatórios). “É um emaranho de obrigações, que muda de cidade para cidade, e pode transformar a vida do empreendedor num verdadeiro martírio”, diz Edivan Costa, dono da Sedi, consultoria especializada em licenciamento de empresas. A abertura de uma simples loja para a venda de bijuteria, por exemplo, pode envolver dez procedimentos.

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    A situação vai se complicando conforme aumenta o nível de inovação do negócio. Se a atividade envolver produtos ou serviços para setores que necessitam de registro em órgãos específicos, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo, a espera por um único documento costuma se estender por meses.

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    Leonardo Lima de Carvalho, fundador da ToLife, empresa especializada em soluções de tecnologia para o setor de saúde
    Leonardo Lima de Carvalho, fundador da ToLife, empresa especializada em soluções de tecnologia para o setor de saúde (VEJA)

    Foi o que aconteceu com o cientista da computação Leonardo Lima de Carvalho, de 35 anos. Ele é dono da ToLife, companhia de Belo Horizonte especializada em soluções tecnológicas para a área de saúde. O carro-chefe de seu negócio é um equipamento que reúne funções de nove aparelhos clínicos (como medidor de pressão e glicose e leitor de biometria) e que pode ser usado em prontos-socorros e hospitais para ajudar na triagem dos pacientes – definindo quais devem ser atendidos com mais urgência. “Criei algo inédito no mundo”, diz Carvalho. No entanto, até começar a vender, o que se deu em 2009, o empresário enfrentou uma angustiante espera de sete meses por um único documento da Anvisa – sem o qual sua empresa não poderia operar. “Se não tivesse o apoio financeiro de um grupo de investidores que apostou na minha ideia, certamente teria de desistir”, conta. Neste ano, a ToLife deve faturar 30 milhões de reais, atendendo mais de 5 000 hospitais públicos e privados de várias regiões do país. “Demorou, mas agora já posso comemorar”, afirma.

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    Muitas pedras no caminho: a dura tarefa de empreender no Brasil
    Muitas pedras no caminho: a dura tarefa de empreender no Brasil (VEJA)

    Questão de sobrevivência – Regras em demasia e demora na resolução de processos são problemas comuns a empresas de todos os tamanhos no Brasil. Contudo, em negócios de pequeno e médio porte, essas amarras podem ter efeitos nefastos. O empreendedor, sobretudo nos primeiros anos de atividade da empresa, não conta com uma equipe numerosa para dividir tarefas. Resultado: a sina de todo empresário iniciante é ter de se desdobrar em diferentes atividades. “Quem gasta muito tempo com papelada fica sem energia para pensar em assuntos estratégicos para o negócio, como o desenvolvimento de produtos e a formação de uma boa carteira de clientes”, resume Rodrigo Teles, presidente da Endeavor – instituição sem fins lucrativos que ajuda pequenos e médios empresários de países em desenvolvimento a ampliar seus negócios de forma mais acelerada.

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    Avanços – Nos últimos anos, felizmente, algumas iniciativas ajudaram a desanuviar o caminho do empreendedor. A aprovação do Simples Nacional, um regime unificado de arrecadação e cobrança de tributos, e a criação da categoria de Microempreendedor Individual (MEI), que, entre outras coisas, permite a abertura de uma empresa pela internet, são algumas delas. “Foram ações importantes, mas limitadas”, diz Tales Andreassi, coordenador do Centro de Estudos em Empreendedorismo e Novos Negócios (GVcenn) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A principal crítica dos especialistas refere-se aos limites de faturamento anual nos dois casos: 3,6 milhões de reais e 60 mil reais, respectivamente. “No geral, ainda temos um sistema que pune quem está à frente de negócios em expansão”, reclama Andreassi.

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    Num país com longa tradição em impor obstáculos ao desenvolvimento dos negócios privados, ainda será preciso tirar muitas pedras para que o empreendedor possa, enfim, preocupar-se com o que realmente importa: o próprio negócio.

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