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Pandemia faz Brasil virar alvo do soft power de grandes potências

Estados Unidos, China e Reino Unido buscam aumentar sua influência no país a partir de doações para o combate à crise de saúde

Por Machado da Costa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jun 2020, 13h11 - Publicado em 4 jun 2020, 12h49
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  • No último domingo, 31, os Estados Unidos anunciaram o envio de 2 milhões de doses de hidroxicloroquina — o remédio eficaz contra malária, mas que não tem comprovação de efeitos positivos sobre a Covid-19 — e 1.000 respiradores ao Brasil. Na quarta, 3, a Universidade de Oxford, no Reino Unido, divulgou que 2.000 brasileiros participarão dos testes para uma vacina experimental contra o novo coronavírus. Também na quarta, chegaram 160 toneladas de equipamentos médicos, máscaras e luvas, oriundos da China. Novo epicentro da pandemia, o Brasil virou o alvo do “soft power” — termo utilizado para designar a habilidade de um Estado em influenciar indiretamente a cultura de outras nações — das grandes potências.

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    É difícil entender a solidariedade internacional como um jogo de interesses. Mas é preciso ficar claro que não há amadores nesse jogo. A escolha do Brasil como foco momentâneo da ajuda tem um objetivo claro que amaciar as relações entre os países e, no longo prazo, reforçar laços políticos e comerciais. Há poucas nações, como o Brasil, que podem se dar ao luxo de flertar ideologicamente com os Estados Unidos, mas fazer negócios com a China, sem sofrer represálias de parte a parte. Aliás, China, Estados Unidos e União Europeia, nesta ordem, são os três maiores parceiros comerciais do Brasil. O principal motivo para o país conseguir lidar bem com cada um dos gigantes está na exportação do agronegócio, indispensável para a China e em boa medida também para americanos e europeus.

    O descontrole sobre a doença no país intensificou esse jogo e adicionou elementos que atraíram outras nações, como o Reino Unido. Fato que a Universidade de Oxford precisava de cobaias para testar efetivamente a vacina — e não há lugar melhor do que o epicentro atual de disseminação. Contudo, os laços estreitos com os americanos, que rivalizam com os brasileiros em mortes diárias de Covid-19, poderia fazer com que os testes fossem realizados por lá. Não aconteceu dessa forma devido aos interesses de universidades locais e enormes laboratórios que também desejam desenvolver suas próprias vacinas.

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    SILÊNCIO — Carta enviada pela embaixada chinesa ao Congresso Nacional pede que parlamentares não se pronunciem sobre a posse de Tsai Ing-wen como presidente de Taiwan (Reprodução/VEJA)

    A pandemia intensificou o tabuleiro do xadrez geopolítico anabolizado pela ideologia dos governantes das grandes potências. Dawisson Belém Lopes, professor de Relações Internacionais da UFMG, compara a situação brasileira com a da Venezuela, que pelo desastre ditatorial de Hugo Chávez e Nicolás Maduro empobreceu e caiu na mão de interesses internacionais. “A Venezuela virou um campo de disputa entre Rússia, China e Estados Unidos”, diz Lopes. Embora a realidade do Brasil ainda esteja muito distante da do vizinho ao norte, os interesses estrangeiros por aqui são muitos — tanto nos negócios, quanto na ciência. “Recebemos milhares de máscaras dos chineses e oferta de préstimos dos estadunidenses. É um lubrificante, para aumentar a boa vontade com eles.”

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    É justamente este soft power que, por fim, força o silêncio ou o endosso a determinado assunto. Por exemplo, no último dia 13 de maio, a embaixada da China no Brasil enviou aos membros do Congresso uma carta pedindo que não parabenizassem Tsai Ing-wen, que tomou posse em 20 de maio. A China não reconhece Taiwan como um estado independente. É este soft power também que garante que o governo não reclame com contundência quando é excluído de uma possível expansão do G7 — o grupo das principais economias do planeta. “É a nossa fragilidade escancarada”, conclui Lopes.

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