Indicado pelo governo para uma posição na diretoria de política monetária do Banco Central, o economista Gabriel Muricca Galípolo participa na próxima semana de sua primeira grande decisão como integrante do Comitê de Política Monetária (Copom) da autarquia. É esperado que a reunião do comitê decida pela primeira queda da taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano, em 2023, após grande expectativa do mercado. Muito se fala, no entanto, sobre a relação de Galípolo com o atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, alvo constante de críticas por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e membros do Partido dos Trabalhadores (PT).
Mesmo com as críticas excessivas de Lula a Campos Neto, Galípolo só tem elogios ao presidente do Banco Central. Em entrevista concedida a VEJA, quando teve seu nome aprovado para a autarquia, Galípolo evitou o confronto e disse que mantém diálogo constante com seu, agora, companheiro de equipe. “Eu falo muito com ele. Temos uma relação ótima. Acho difícil que tenha alguém no governo que tenha falado tanto com ele quanto eu”, disse. “Ele sempre é muito gentil comigo. Temos uma relação muito intensa de diálogo. Acho que a intenção da minha indicação seria para construir mais pontes e estabelecer mais diálogo, facilitando nessa harmonização da política fiscal com a política monetária.”
Assim que viu seu nome ser indicado à posição no BC por Fernando Haddad, o ministro da Fazenda, Galípolo recebeu mensagens de diversos diretores da entidade, sobretudo de Campos Neto. “Tenho sentido nas interlocuções um bom acolhimento por parte de quem hoje está no Banco Central. Imediatamente após a minha indicação eu recebi mensagem de boas-vindas do presidente [Campos Neto]”, aponta ele, que rechaça a ideia ter sido nomeado para ser um ‘espião’ do governo na autarquia. “O que é o Banco Central para precisar de um espião da parte de quem foi democraticamente eleito? Eu tenho dialogado sempre com o mercado. Tenho muitas reuniões e amigos lá.”
Galípolo e Campos Neto tiveram um entrevero público na última semana, quando uma reportagem da Folha de S. Paulo apontou que o novo executivo da autarquia estava tendo sua opinião “censurada”. Poucos dias após a nomeação de Galípolo, o Banco Central anunciou uma videoconferência para tratar dos rumos da política monetária sem consultá-lo — a transmissão foi feita por Diogo Guillen, que acumulou as funções de diretor de política econômica e monetária até a chegada de Galípolo. A autarquia negou, em nota, que o novo diretor indicado por Lula e Haddad tenha sofrido qualquer tipo de censura, explicou que é norma que os comunicados públicos sejam avalizados previamente por Campos Neto e explicou que a live em questão seria de competência da diretoria de política econômica, comandada por Guillen, segundo artigo 18 de seu regime interno. A despeito do mal-entendido, Galípolo segue elogiando Campos Neto em conversas privadas.