Um dos planos da equipe de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) para a entrevista no Jornal Nacional era que o presidente focasse na economia para tentar falar “para fora da bolha” de seus eleitores. E, essa parte do plano foi concluída com sucesso. Ao ser questionado por Willian Bonner, âncora do JN, sobre a economia caso fosse reeleito, Bolsonaro seguiu a cartilha de seus assessores à risca: citando os desafios trazidos pela pandemia e pela guerra da Ucrânia e também a deflação registrada em julho deste ano, além de comparar o dado a de países desenvolvidos. O presidente, entretanto, omitiu da comparação a inflação acumulada em 12 meses, em que o índice de preços brasileiro supera a inflação dos países desenvolvidos.
“Se você pegar os dados de hoje, você vê o Brasil como talvez o único país do mundo com uma deflação, um país onde vai ter uma inflação menor do que, por exemplo, Inglaterra, menor que os Estados Unidos”, disse. Em julho, o CPI americano registrou alta de 8,7% na taxa anualizada (acumulado de 12 meses), após variar 0,2% no mês. No Brasil, foi de fato registrada uma deflação de 0,68%, mas na taxa anualizada, o acumulado é de 10,1%, mesma alta registrada no Reino Unido.
Como mostrou VEJA em reportagem recente, a desaceleração da inflação brasileira vista em julho ocorre, além da redução do ICMS e impostos federais sobre os combustíveis, devido ao avanço do ciclo da política monetária do Banco Central, que desde 2021 está reduzindo a taxa de juros para tentar conter a alta da inflação. O ciclo contracionista no Brasil começou antes do que nas grandes economias, que começaram o aumento de juros neste ano. Isso ocorre porque, por aqui, os preços começaram a acelerar antes. Ao final de 2021, por exemplo, a inflação no Brasil foi de 10,06%. Nos EUA, o índice de preços encerrou 2021 em 5,8% e no Reino Unido em 5,4%. Essa perda de poder de compra da população, registrada no ano passado, dificilmente será recuperada.
Agora, para o ano fechado de 2022, o mercado estima uma inflação 6,82%, segundo o Boletim Focus. Em outros países a inflação começa a ceder também, com a expectativa de os preços do petróleo se manterem mais baixos, depois de terem atingido um pico e com a perspectiva de diminuição do ritmo da atividade econômica nos Estados Unidos, Europa e China.