Após 57 dias, a Petrobras resolveu reajustar os preços da venda de gasolina e diesel em suas refinarias. Embora o repasse fosse praticamente inevitável diante da escalada dos valores de barril de petróleo mundo afora devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, a notícia foi recebida como uma bomba para lideranças dos caminhoneiros, que rechaçam uma suposta ‘inércia’ do governo para promover soluções para a inflação no Brasil. Os reajustes são de 25% para o diesel, de 19% para a gasolina, e de 16% para o gás de cozinha.
Segundo Wallace Landim, o Chorão, que preside a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), a população deve ir às ruas exigir um posicionamento do presidente Jair Bolsonaro. “A população tem que se conscientizar. O povo, seja de esquerda ou de direita, está sofrendo. A gente precisa se unir e cobrar a melhora do nosso país”, diz ele, uma das lideranças da categoria na greve dos caminhoneiros em 2018, durante o governo de Michel Temer. Landim rechaça as alternativas para o mercado que estão sendo discutidas no Senado. “Um dos textos que estão para ser votados fala em uma bolsa-combustível de 300 reais. O caminhão faz dois quilômetros a cada litro. Você acha que vai ajudar em alguma coisa?”, indaga.
Apesar de demonstrar descontentamento e decepção com o novo reajuste que impactará diretamente o preço do combustível na bomba e que irá gerar uma reação em cadeia para diversos produtos que dependem da malha rodoviária para chegar aos pontos de venda, Landim afirma que não tentará articular uma nova paralisação da categoria. “Eu não preciso pedir para parar. O Brasil vai parar automaticamente por não ter condições de se manter. Alguns analistas falam que o petróleo pode chegar a 200 dólares o barril. O maior prejudicado com isso tudo será a população, basta ver o preço do quilo de arroz, do feijão e do óleo de cozinha”, diz. “Neste momento, eu quero conscientizar a população pobre e a classe média. Se eles convocarem manifestações, aí sim os caminhoneiros vão apoiar. Desde 2018, eu não participei de nenhum movimento. Ia participar em novembro de 2021, para pressionar o presidente para que se retirasse o nosso petróleo do preço de paridade de importação, mas o que recebi foi 29 liminares com multas de mais de 1 milhão de reais.”
Para o especialistas em energia Adriano Pires, sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o governo poderia promover políticas de assistência social enquanto o barril do combustível se mantenha acima dos 100 dólares no mercado internacional. Retirar a Petrobras do sistema de Preço de Paridade de Importação (PPI), principal demanda dos caminhoneiros, no entanto, é vista como uma “tentação perigosa” para o governo. “A gente tem que tomar uma providência agora, porque não dá para ficar vendo a banda passar sem fazer nada. Tem que tomar medidas típicas de períodos de excepcionalidades, como foi com o auxílio emergencial durante a pandemia para socorrer as pessoas de menor renda”, afirma. “Deve ter algum programa de subvenção direta para diesel e botijão de gás por três meses, pelo menos, enquanto vai se discutindo no Congresso políticas mais estruturais, como mudança tributária.”
O especialista ressalta, ainda, que a Petrobras é vista como uma empresa pública, mas seu capital é misto e a companhia deve respeitar as regras de governança impostas pelo mercado de capitais. “Eu espero e torço para que o governo Bolsonaro resista à tentação de intervir na Petrobras, porque esse seria o pior caminho. Se o caminho for o da intervenção vai ser um desastre para o país. A gente já viu que falar em congelamento de preços é a pior política possível, porque o resultado imediato será o desabastecimento”, diz Pires. “Que se crie políticas públicas para esse momento de excepcionalidade, como um plano de subvenção, a mudança do ICMS, e que voltem a discutir uma reforma tributária ampla no país.”