O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que houve “falcatrua” no leilão de importação de arroz realizado em 6 de maio pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O governo anulou o leilão em 11 de junho, após denúncias de que, entre os vencedores, havia empresas sem condições técnicas ou financeiras de honrar os contratos, como uma sorveteria, uma locadora de automóveis e um pequeno mercado de queijos do Pará.
“Tivemos a anulação do leilão, porque houve uma falcatrua numa empresa”, afirmou Lula nesta sexta-feira, 21, em entrevista concedida à rádio Meio, de Teresina (PI). Ele acrescentou que o objetivo da importação era conter o preço do arroz após as inundações que castigaram o Rio Grande do Sul, maior produtor desse alimento básico para os brasileiros, entre o fim de abril e meados de maio.
“O povo não pode pagar 36 reais num pacote de 5 quilos; esse arroz está caro”, disse. “O arroz tem que chegar na mesa do povo, no mínimo, a 20 reais”, emendou.
O governo pretendia importar um total de 1 milhão de toneladas do produto por até 7,2 bilhões de reais. O leilão anulado seria o primeiro e visava adquirir 300 mil toneladas, mas só conseguiu obter 263 mil, a um custo de 1,3 bilhão de reais. Após a suspensão, Lula escalou a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) para acompanhar a elaboração de um novo edital, a fim de evitar novos problemas.
Outro motivo de desgaste foi a revelação de que três das quatro empresas vencedoras da disputa foram representadas pela Foco Corretora de Grãos, dirigida por Robson Luiz Almeida de França, ex-assessor parlamentar de Neri Geller, que comandava a Secretaria Nacional de Política Agrícola quando o certame foi realizado. Geller pediu demissão em 11 de junho, diante das suspeitas de eventual favorecimento da Foco. Para complicar a vida do agora ex-secretário, França é sócio de seu filho, Marcelo Geller, em outras empresas.
Na entrevista à rádio Meio, hoje, Lula afirmou que o governo pretende financiar o plantio de arroz em outros estados, “para não ficarmos dependentes apenas de uma região”. Como incentivo à expansão da área cultivada, o presidente acrescentou que “vai dar garantia de preço para que as pessoas (os produtores rurais) não tenham prejuízo (com o arroz)”.