A inflação oficial acelerou 0,40% no mês de maio e surpreendeu o mercado, que esperava um índice entre 0,26% e 0,36%. A greve dos caminhoneiros, iniciada no dia 21 de maio, foi a grande responsável pelo resultado – com a paralisação dos produtos nas rodovias, a demanda tornou-se maior do que a oferta, pressionando os preços para cima. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) foi divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira.
Com a greve, uma revisão da alta do IPCA era aguardada pelos especialistas – a questão era saber o tamanho do reajuste. “A aceleração da inflação era inevitável. Os grupos de combustível e alimentação têm peso de mais de 30% na inflação”, contou o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.
Antes da paralisação, o professor da Faculdade Fipecafi, George Sales, previa um IPCA de 0,26%. Ontem, revisou o indicador para 0,40% – expectativa certeira e que representa um aumento de quase 50% em relação à expectativa inicial.
Para Vale, cerca de 30% da inflação de maio deve-se à greve dos caminhoneiros. “O mês de junho ainda será pressionado pela greve dos caminhoneiros, mas em julho deve estar normalizado”.
Mesmo com a alta, o IPCA continua abaixo da meta definida pelo Banco Central para 2018. O índice acumula uma alta de 2,86% nos últimos 12 meses encerrados em maio – a meta da inflação é de 4,5% para o ano, com piso de 3%.
Segundo Sales, a greve dos caminhoneiros não é o único fator que influencia o aumento dos preços. “Além da forte alta devido à paralisação, há o aumento do dólar nos últimos meses. Tais efeitos podem afetar o consumo interno”.
O grupo de transportes registrou alta de 0,40%. A alta da gasolina (3,34%) e do óleo diesel (6,16%) influenciaram o resultado, de acordo com o IBGE.
Os alimentos que mais sofreram com a alta foram a cebola (de 19,55% em abril para 32,36% em maio), a batata-inglesa(de -4,31% em abril para 17,51% em maio), as hortaliças (de 6,46% em abril para 4,15% em maio) e o leite longa vida (de 4,94% em abril para 2,65% em maio).
De acordo com o economista da MB Associados, a greve também influencia na atividade econômica. “Mais importante do que o peso da paralisação na inflação, há o peso na atividade. Quando forem divulgados dados da indústria, vamos entender quão importante foi a greve, as quedas serão significativas”.
Projeções de diversos segmentos da economia apontam para perdas de mais de 75 bilhões de reais após dez dias de greve dos caminhoneiros.
Tabela para frete
Uma das reivindicações dos caminhoneiros durante a paralisação, uma tabela com preço mínimo do frete para o transporte rodoviário de cargas, foi revogado pelo governo menos de 24 horas após divulgação. A decisão foi tomada pela insatisfação dos representantes dos caminhoneiros.
Segundo Vale, uma nova tabela pode encarecer os produtos para o consumidor final. “É provável que essa tabela não funcione. O repasse de preços seria muito intenso. O governo vai ter que buscar uma solução mais factível”.
“O ideal é que não tivesse um tabelamento”, afirmou ele. “Esse tipo de tabelamento geral é ruim porque cada viagem de caminhão é uma coisa, acaba distorcendo o mercado de frete no Brasil”.
A expectativa dos caminhoneiros era de que a tabela reduzisse o custo do transporte em relação aos valores atuais.