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Falha da Caixa permite clientes de fintechs dobrarem auxílio emergencial

Nubank e PicPay foram as empresas que mais sofreram com os erros; startups responsabilizam a Caixa pelo problema

Por Machado da Costa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Felipe Mendes Atualizado em 8 jul 2020, 21h11 - Publicado em 8 jul 2020, 16h30
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  • Um erro cometido pela Caixa Econômica Federal, envolvendo beneficiários do Auxílio Emergencial, criou uma cizânia entre o banco público e fintechs como Nubank e PicPay. Por problemas envolvendo o sistema de pagamentos da Caixa, clientes do Nubank receberam mais de uma vez o depósito referente ao Auxílio Emergencial — ou seja, ao invés de receberem 600 reais, obtiveram, em alguns casos, 1.200 ou até 1.800 reais. No PicPay, por sua vez, o problema foi que o dinheiro dos beneficiários ficaram presos num limbo, o que fez com que diversos clientes reclamassem da startup nas redes sociais. O infortúnio, que tentou ser contornado de maneira silenciosa, acabou revoltando usuários dessas plataformas e expondo as fintechs — orientada pelo Banco Central e pela Caixa, o Nubank realizou o estorno de parte do dinheiro. Para piorar, a Caixa gerou uma lista de pessoas que não era precisa, o que incluiu clientes das fintechs que não tinham recebido dinheiro em excesso.

    Conforme VEJA apurou, o erro na transferência aconteceu após pessoas, que são clientes dessas plataformas digitais e que tiveram o cadastro para receber o Auxílio Emergencial aprovado, gerarem boletos de depósitos para serem pagos com o benefício do governo. Assim, conseguiam antecipar o recebimento do benefício. O método é aprovado pelo Banco Central. O problema, portanto, consistiu numa falha dos sistemas da Caixa que computou duas ou mais vezes o pagamento, gerando centenas de milhares de reais em excesso.

    Como forma de resolver a situação, a Caixa enviou para o Nubank uma lista de clientes que teriam transferido os recursos recebidos do Auxílio Emergencial para suas contas digitais. No entanto, o banco público não filtrou as pessoas que de fato teriam recebido a verba além do que era de direito. A fintech, pressionada, iniciou os estornos sem comunicar seus clientes, que passaram a ver, em muitos casos, suas contas zeradas. Depois de perceber a inconsistência na relação de nomes enviada pela Caixa, abortou a operação de devolveu os recursos aos seus clientes. Uma celeuma enorme envolvendo o principal programa de manutenção de renda na pandemia de Covid-19.

    O Nubank se eximiu da responsabilidade e culpou a Caixa em nota oficial. “O Nubank lamenta o transtorno causado aos seus clientes e informa que, devido à imprecisão dos dados da Caixa, a empresa decidiu reverter imediatamente os valores aos seus clientes mesmo não sendo responsável pela falha. Os clientes afetados já começaram a receber os valores em suas contas. A empresa aguarda esclarecimentos adicionais do banco estatal”, disse em nota enviada à VEJA.

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    Já o caso do PicPay é diferente. Não houve duplicação do valor referente ao auxílio emergencial. Por conta de problemas no sistema do Caixa TEM, alguns beneficiários tiveram seus recursos presos num limbo. O dinheiro saia do aplicativo do banco, mas não chegava ao PicPay. Muitos usuários foram às redes sociais reclamar do infortúnio. Essa quantia retida momentaneamente deve voltar ao sistema do Caixa TEM em até sete dias. A fintech fez um esclarecimento sobre o processo de transferência dos recursos e sobre como deve ser feito o estorno em caso de irregularidades no recebimento do Auxílio Emergencial. “Desde o início da distribuição do Auxílio Emergencial, mais de 2,9 milhões de usuários concluíram a transferência do benefício para o PicPay com sucesso. Por instabilidade do sistema do Caixa TEM, um pequeno percentual das transações entre o aplicativo e o PicPay não é concluído. Nesses casos, o usuário deve fazer nova tentativa. Se a Caixa tiver debitado o valor utilizado para a transferência, o estorno deverá ser realizado pelo próprio banco”, afirmou, também em nota.

    Segundo Heloisa Ifanger, diretora de Conta Digital do Mercado Pago, desde a segunda parcela, mais de 3,5 milhões de beneficiários transacionaram recursos do Auxílio pelos sistemas da fintech. “Pessoas que nunca pagavam conta com o Mercado Pago, estão pagando suas contas. Nós tivemos um crescimento de 53% no fluxo de pagamentos de contas em junho quando comparado ao período antes do auxílio emergencial. Tem um volume expressivo de dinheiro entrando”, afirma. Ela diz também que o Mercado Pago não sofreu com os mesmos problemas de outras fintechs. “Nós não vimos o impacto que os outros viram. Quando olhamos alguma coisa que pode apontar para algo mais crítico, temos agido muito rápido para garantir principalmente para que as pessoas tenham acesso ao dinheiro delas.” Já o PagSeguro afirmou que não enfrentou problemas. “Os clientes do PagSeguro PagBank que fizeram a transferência do Auxílio Emergencial para a conta PagBank estão recebendo o dinheiro normalmente”, disse em nota.

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    A Caixa tem enfrentado diversos problemas para absorver o número de medidas adotadas pelo governo no combate à crise econômica. Tem recaído sobre o banco, que é o agente pagador apenas, os problemas envolvendo o filtro dos beneficiários do Auxílio Emergencial, que não funcionou e que permitiu centenas de fraudes que podem chegar a 12,5 bilhões de reais. O acesso aos recursos do Tesouro para a complementação do salário de trabalhadores que foram incluídos na Lei do BEM também demorou à chegar. Este filtro é feito por outros órgãos, como o Dataprev, que armazena os dados financeiros dos cidadãos. Em entrevista a VEJA, o presidente Pedro Guimarães reiterou que a Caixa não possui responsabilidade sobre esses problemas. “O Ministério da Cidadania contratou a Dataprev para fazer as análises e o cruzamento dos dados, e a Caixa para fazer o cadastramento do auxílio e o pagamento. A Caixa não consegue nem saber quem pode ou não pode receber porque não tem a base de dados que vem da Receita”, afirmou Guimarães. “O que a Caixa recebe, ela paga.” Em nota enviada nesta quarta-feira, 8, a Caixa afirmou a VEJA que, “acerca de relatos de intercorrências em pagamentos e transferências do CAIXA TEM para fintechs, não foram identificadas falhas nos sistemas internos da Caixa”.

    Colocado de pé em tempo recorde para amenizar os efeitos da Covid-19 sobre a economia, muitas pessoas conseguiram receber o benefício devido à falta de sinergia entre órgãos do governo, como Receita Federal e Dataprev. A Caixa acabou exposta em muitas situações, mas se eximiu da responsabilidade. Já no caso destes beneficiários, que acabaram recebendo valores acima, a Caixa coloca-se como personagem central no problema. Como é um sistema voltado para informais, muitos dos beneficiários não possuem conta corrente em bancos tradicionais e os meios de pagamentos, como Mercado Pago e PicPay, que não exigem a burocracia bancária, tornaram-se formas para transacionar os valores. O uso dos bancos digitais permitiu que milhões de beneficiários pudessem utilizar seus recursos na internet, por exemplo. É inegável o valor dessas startups para a bancarização do país e o momento comprova que a flexibilização das regras que permitiu sua existência foi a mais correta possível. Contudo, todo o sistema financeiro precisa andar em conjunto para que falhas como estas não progridam e acabem por se tornar uma mácula. Já existem problemas demais para serem consertados em relação ao Auxílio Emergencial e este se torna mais um.

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