Os autoelogios da presidente Dilma Rousseff sobre os feitos do seu governo, em discurso nas redes de rádio e televisão na noite de sexta-feira, poderiam ter acontecido em um tom mais humilde. Principalmente porque a presidente vetou no ano passado a desoneração da cesta básica. Em setembro de 2012, Dilma rejeitou proposta do líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo, de zerar os impostos federais para os mesmos produtos: carne bovina, suína, peixe, arroz, feijão, ovo, leite integral, café, açúcar, farinhas, pão, óleo, manteiga, frutas, legumes. A presidente apenas acrescentou sabonete, papel higiênico e pasta de dente.
Os motivos do veto? Criar uma comissão liderada pelo PT para estudar os benefícios que a medida poderia trazer para o país. “Mais uma vez falou a candidata e não a presidente da República, que perdeu a oportunidade de explicar ao país as razões do recrudescimento da inflação que temos vivido”, afirmou Sérgio Guerra, presidente do PSDB, em nota. “Se não tivesse vetado a emenda aprovada, o benefício de produtos mais baratos já teria chegado à mesa dos brasileiros meses atrás.”
Inicialmente, a desoneração da cesta básica estava na Medida Provisória (MP) 563, do Plano Brasil Maior, que, além dos alimentos básicos, retiraria tributos do Programa de Integração Social (PIS), da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). Na época, para a presidente, faltava relevância para aprovar a redução dos impostos.
Na noite de sexta-feira, Dilma apareceu como a dona da ideia que vai beneficiar as famílias de renda mais baixa, num claro apelo eleitoral de olho nas eleições do ano que vem. Após o veto presidencial, a Fiesp alertou para os ganhos imediatos da redução de impostos na cesta básica: 30% da renda das famílias mais humildes era utilizada na compra de alimentos.
O Planalto desejava anunciar a desoneração da cesta básica após a aprovação do Orçamento deste ano. Mas com a inflação em alta – o IPCA chegou a 6,3% em fevereiro, no acumulado de 12 meses – a presidente antecipou a benevolência. Reduzir o peso dos impostos nos alimentos pode ajudar a reduzir a inflação e salvar a economia de um novo vexame de baixo crescimento.
Ao não reconhecer a importância e a relevância da ideia de um partido da oposição, a presidente Dilma reforça a imagem de prepotência e arrogância que marcam os 10 anos do PT na presidência. Qualquer proposta, para ser considerada boa, só vale com uma única assinatura: a do seu partido.