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Dólar encerra semana valendo menos que R$ 5

Moeda americana seguiu tendência de baixa com melhora no cenário político e bons presságios vindos dos EUA

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 14h19 - Publicado em 5 jun 2020, 17h34
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  • Em 26 de março, a Covid-19 ainda começava a mostrar suas garras em território brasileiro. Naquele dia, o país somava 77 óbitos em decorrência da doença e menos de 3 mil casos confirmados. Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro já criticava as medidas de isolamento impostas por prefeitos e governadores e anunciava que o desemprego seria um problema muito maior do que a doença em si — fazia dois dias da ida do presidente à televisão para classificar o vírus como uma “gripezinha” em pronunciamento nacional. O ministro da Saúde era Luiz Henrique Mandetta. E o dólar fechara, pela última vez, abaixo de 5 reais. Muito mudou desde então. O Brasil soma mais de 400 mil casos confirmados de coronavírus e acumula milhares de mortes diárias por causa da doença. Nelson Teich deu o ar da graça no comando da Saúde, reuniões privadas e denúncias e mais denúncias vieram à tona, e a disputa entre os governos estaduais e a União só pioraram. E o dólar, depois de alcançar os impensáveis 5,97 reais no ápice das tensões, encerrou a semana valendo 4,99 reais.

    O clima político ajudou a elevar o dólar a patamares irreais e a abertura das economias ao redor do mundo, além do apaziguamento do cenário político no país, colaboraram para que a moeda americana perdesse força – e o real avançasse. “A queda foi muito expressiva nesses últimos 20 dias. A percepção de risco do mercado mudou e a realidade mostra que o efeito da paralisação pode não ser tão nefasto”, explica Mauro Rochlin, professor de economia da PUC-Rio. Nos últimos dias, o mercado precificou o risco envolvendo as manifestações contra a morte de George Floyd, um norte-americano negro de 49 anos assassinado brutalmente por um policial branco, e os impactos dos movimentos para o mandato e a reeleição de Donald Trump. O pacote trilionário do Banco Central Europeu, que injetou 7,8 trilhões de reais nos mercados, também refletiu positivamente no Brasil, graças às taxas de juros negativas no Velho Continente.

    Os Estados Unidos, ao que parece, já passaram pelo pior da crise. A taxa de desemprego, que batera números não vistos há mais de 50 anos no mês passado, caiu de 14,7% para 13,3%. Em maio, os empregadores acrescentaram 2,5 milhões de postos de trabalho, um primeiro sinal de que o mercado está se recuperando da debacle ocasionada pela pandemia de coronavírus neste ano. Entre março e abril, quando o país adotou medidas de restrição para evitar o contágio pela enfermidade, 22,1 milhões de empregos foram varridos — mais de 20 milhões só em abril. O número positivo surpreendeu o mercado. Esperava-se que a taxa de desemprego avançasse a 19,8% em maio, com o fechamento de mais 8 milhões de vagas. Os números permitiram aos investidores sonhar com uma recuperação mais rápida da economia americana, barateando as dívidas que as empresas brasileiras mantêm em dólar. 

    A reabertura gradativa da economia (correta ou não) em diversos estados também deu fôlego para os investidores trazerem de volta o dinheiro estrangeiro para o país, temendo um risco maior. No cenário interno, o bom desempenho do real foi impulsionado pela fala do secretário de Política Econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk, de que a instituição trabalha para ampliar o acesso a crédito, fundamental para a retomada de empresas e a manutenção de empregos. O ambiente fiscal minimamente arrumado dos últimos anos, com a aprovação da reforma da Previdência e a estipulação do Teto de Gastos, permitem que o país sonhe com uma recuperação mais rápida do que outros países – isso, é claro, se o ambiente político ajudar. Os fins de semana, digamos, têm sido a grande preocupação dos investidores, com a possibilidade de novos protestos que possam ameaçar a mínima estabilidade do país. Mas, para o mercado, hoje é dia de happy hour.

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