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Manifestações nos EUA ou Bolsonaro: o que gera maior tensão no mercado

Estados Unidos em chamas por assassinato de George Floyd faz investidores mirarem emergentes, mesmo com o caos generalizado que toma conta de Brasília

Por Victor Irajá Atualizado em 2 jun 2020, 18h08 - Publicado em 2 jun 2020, 17h54

Napoleão III, sobrinho de Napoleão e primo de Napoleão II, após dar um autogolpe, proclamou o Segundo Império Francês em dezembro de 1852. Durante seu reinado, encerrado em 1870 com a sua captura que deu início à guerra Franco-Prussiana, ele trabalhou para modernizar a economia nacional, reconstruir o centro de Paris e expandir o império além-mar. Pois bem, se ele tentou de fato, não conseguiu. A especulação financeira em torno da bolsa de Paris transformou o mercado financeiro do país em uma bolha de corrupção e especulação desenfreada. O romancista Alexandre Dumas (1802—1870) ironizou à época: “os negócios são o dinheiro dos outros”. Esta frase poderia estar publicada em qualquer editoria de Economia dos jornais desta terça-feira, 2.

Entre os riscos da pandemia do novo coronavírus, da instabilidade política causada pela gestão controversa do presidente Jair Bolsonaro e das manifestações que se avolumam nos Estados Unidos, a especulação ganhou força nesta semana. Os movimentos dos mercados ficam cada vez mais confusos à medida que grandes bancos internacionais doutrinam as variações das moedas e das bolsas mundo afora. Por isso, o dólar perdeu força em relação ao real pelo segundo pregão consecutivo e fechou o dia cotada a 5,20 reais, o menor valor desde o dia 14 de abril, quando a pandemia de Covid-19 começava a esgueirar-se pelo país. Os investidores seguiram as recomendações de grandes instituições bancárias norte-americanas de apostar contra o dólar, pela crescente incerteza envolvendo os protestos locais em decorrência do brutal assassinato de George Floyd — um americano negro, de 46 anos — no último dia 25 de maio. A indignação popular e as marchas contra o racismo tiraram o seguríssimo investimento em moeda americana do radar dos investidores. Uma das maiores instituições bancárias do país, o Goldman Sachs apostou na queda da moeda americana em decorrência da falta de estabilidade e a abertura das economias na Europa. 

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Mesmo com as posições desastrosas do presidente Jair Bolsonaro em relação ao controle da pandemia, o Bank of America (BofA) emitiu um comunicado aos acionistas recomendando o investimento em reais no último dia 28 de maio, acreditando em uma reação rápida da economia brasileira passada a pandemia. A divulgação de dados pessoais do presidente, de seus filhos Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, e dos ministros Abraham Weintraub, da Educação, e Damares Alves, da Família e Direitos Humanos, tirou um pouco do apetite do mercado pelo Brasil, o que não impediu que a moeda continuasse seu ciclo de baixa. A guerra das narrativas acompanhada com lupa pelos investidores deu fôlego para Bolsonaro. Neste round da pancadaria retórica generalizada que toma conta de Brasília e dos governos estaduais, a interpretação de que o presidente adotou o papel de vítima potencializou a percepção, ao menos temporária, de que ele se segura no cargo — e tudo o que os mercados mais gostam é de estabilidade. “O mercado já vinha sendo otimista em relação ao Brasil e a revelação dos dados pessoais deu mais força para o Bolsonaro e para o governo”, diz Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas.

Os protestos ocorridos no domingo contra o governo do presidente não refletiram tanto no mercado de câmbio, mas principalmente porque a situação nos Estados Unidos parece muito mais grave do que no Brasil em relação ao ânimo dos manifestantes, que passaram a tomar as ruas por pautas distintas, como a defesa da democracia e o combate ao racismo. Mas, é claro, não são apenas as questões políticas que impulsionam a, digamos, boa vontade do mundo em relação à moeda brasileira. A confiança em empresas brasileiras sólidas, listadas na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, como a Via Varejo, detentora de marcas como as Casas Bahia, e os bancos impulsionam o mercado futuro, atraindo dinheiro estrangeiro para a economia brasileira. A crise política, aponta o BofA, é um dos fatores preocupantes para a retomada da economia brasileira, além do descontrole da pandemia em território brasileiro.

A alta do Ibovespa, que retomou os 90 mil pontos (patamar perdido em março) no pregão desta terça, e a valorização do câmbio, porém, são artificiais — e, como vaticinou Dumas, proveniente do “dinheiro dos outros”. O mercado não está otimista. “Os bancos centrais injetaram 15 trilhões de dólares nos mercados e, é claro, a soma das bolsas subiu. É uma alta financeira, de volume, não econômica”, afirma Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae. A especulação por parte dos investidores e a incerteza política envolvendo os Estados Unidos podem beneficiar o Brasil, que, infelizmente, caminha para o triste marco de epicentro da pandemia global do coronavírus. Os especialistas são claros neste ponto. O fator que permite o mercado brasileiro respirar se dá pelo cenário externo caótico, e não por conta de um arrefecimento do caos que engolfa o país. As apostas circundam o cenário de que o dólar vai se desvalorizar frente a todas as moedas do mundo. Isso já aconteceu na segunda-feira, 1º, com todos os emergentes. “A valorização nos outros países é maior do que a do real, que teve uma valorização mais neutra por causa de questões locais”, diz Spyer. Com o centro financeiro do mundo em polvorosa, as faíscas brasileiras têm menos poder de causar incêndios.

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