Os diretores afastados do Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios, recorreram da intervenção decretada ontem pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). O diretor-presidente, Christian Scheineder, e o diretor-financeiro, Luiz Alberto Menezes Barreto, alegam no recurso que não foram informados sobre o motivo que levou à intervenção de 180 dias.
No recurso a que VEJA teve acesso, os diretores dizem que tiveram seus bens bloqueados enquanto ‘agiam em prol da recuperação financeira da entidade’.
Caso a intervenção não seja suspensa, Scheineder e Barreto pedem a substituição dessa medida por outra menos drástica, o regime de administração especial temporária (Raet). “Seria possível manter o cargo dos membros estatutários e não se decretar a indisponibilidade dos bens. […] Ao mesmo tempo, estaria se garantindo um maior controle e supervisão dos atos da gestão do Postalis, o que só podemos presumir, por ora, que seja o objetivo desta intervenção”, afirma o recurso.
No documento, os executivos questionam ainda o fato de Scheineder ter sido confirmado no cargo de presidente há uma semana pela Previc. “Ora, se a situação da entidade fosse tão grave a ponto de demandar um ato de força do tamanho desta intervenção, o princípio da moralidade ou mesmo a própria lógica/razoabilidade imporia e justificaria a não-habilitação dos dirigentes da entidade.”
Procurado pela reportagem, a Previc ainda não se manifestou sobre o recurso dos dirigentes afastados do Postalis. O fundo de pensão tem cerca de 140 mil participantes, entre ativos e aposentados.
Em entrevista a VEJA em setembro, Christian Schneider, então presidente do Postalis, disse que o déficit estava concentrando nos planos de benefício definido – aquele em que a pessoa contribui sabendo quanto vai receber. Desde 2008 já não é mais possível aderir a esse tipo de plano.
Para equacionar o déficit desses planos, Schneider afirmou que os contribuintes vinham pagando uma parcela adicional de equacionamento de 17,92% referente ao desempenho negativo de 2012, 2013 e 2014. Para equilibrar o déficit de 2015, os participantes teriam de pagar um adicional de mais 2,73% sobre o valor do benefício. O adicional deve se pago por mais de 20 anos pelos participantes.
Na ocasião, Schneider atribuiu o déficit do plano a uma série de fatores, como decisões equivocadas de investimento feitas por uma empresa contratada pela gestão anterior. Ele disse que o Postalis estava acionando essa empresa na Justiça para recuperar parte das perdas.
“Déficit está relacionado ao desempenho da economia, alguns ativos, que podiam ser bons ativos, acabaram não performando. Houve má gestão por parte administrador fiduciário e dos gestores escolhidos. E também tivemos investimentos feitos contra as regras de boa governança, sem garantias ou com garantias mal construídas”, afirmou ele em setembro.