Waldery Rodrigues, secretário especial da Fazenda, não faz mais parte da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro. O ministro da Economia, Paulo Guedes, tirou o secretário do cargo. A saída ocorre dias após a sanção do Orçamento de 2021, que causou grande ruído entre o governo e o Congresso, com acusações mútuas de erros e descumprimento de acordos na elaboração do texto. Com a saída de Waldery, é a 11ª mudança no primeiro escalão da equipe de Guedes.
Waldery havia balançado no cargo em setembro do ano passado, após falar à imprensa sobre planos de desindexar aposentadorias e o salário mínimo, o que provocou a fúria de Bolsonaro e uma ameaça de “cartão vermelho”. Guedes, entretanto, bancou seu secretário. Mas, depois do imbróglio do Orçamento, a situação ficou insustentável. Além de Waldery, a assessora especial do ministro que cuidava de reforma tributária, Vanessa Canado, também deixou o ministério nesta terça-feira (leia mais abaixo).
Em meio a pressões para fatiar o “super ministério”, recriando pastas extintas como o Ministério do Planejamento, Guedes articula mudanças para se defender. Quem deve assumir a vaga de Waldery na Fazenda é o atual secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal. Ele foi alçado ao cargo em julho passado, com a saída de Mansueto Almeida do governo. A tentativa do ministro é amenizar a relação da área econômica com o Congresso, que tem sido difícil desde o início do mandato.
O governo Bolsonaro unificou diversas pastas da área econômica embaixo de um mesmo guarda-chuva. Sob a batuta de Guedes, foram aglutinados os ministérios da Fazenda, Planejamento, Previdência e Trabalho e Indústria e Comércio. Com o desgaste escancarado durante a tramitação do Orçamento e a proximidade do governo com o Centrão, a pressão pela recriação de pastas aumenta. Conforme mostra o Radar, interlocutores do ministro dizem que ele já aceitou o desmembramento de setores como Previdência e Trabalho.
A atuação de Waldery durante a negociação do Orçamento, sancionado com quase cinco meses de atraso, desagradou tanto dentro quanto fora do ministério. A falta de articulação da equipe econômica com deputados e senadores ficou evidente no movimento dos congressistas para aumentar as verbas de emendas parlamentares. A secretaria da Fazenda, então, defendeu veto integral das alterações, desagradando a ala política. Também causou estranheza e um desconforto no ministério a falta de atualização de fatores macroeconômicos no Orçamento, como o índice de inflação e o salário mínimo, que já estavam definidos desde o fim de 2020.
Saída de Canado
A saída da advogada tributarista Vanessa Canado do Ministério da Economia nesta terça-feira não está relacionada à demissão de Waldery, A VEJA, Canado afirmou que a saía foi planejada e que a carta de demissão já havia sido entregue no mês passado a Guedes. “Terminei meu trabalho por aqui, encerrei um ciclo de forma muito satisfatória”, disse.
Canado é uma das articuladoras do “fatiamento” da reforma tributária, enviando a proposta em fases. O projeto do governo, enviado ao Congresso em julho do ano passado, prevê a unificação do PIS e da Cofins (incidentes sobre a receita, folha de salários e importação), e a criação de um novo tributo sobre valor agregado, com o nome de Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS). Depois de meses encostada, tanto pela pandemia quanto por ruídos entre Guedes e o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a reforma tributária voltou ao noticiário. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) prometeu uma nova versão do texto para o próximo dia 3.