Por risco fiscal, Brasil atrai menos investimento estrangeiro qualificado
Investimento Estrangeiro Direto em 2021 é 42,7% inferior, até março, que do ano anterior; crescem as apostas curtas, em ações na bolsa e fundos
O risco fiscal e as incertezas políticas brasileiras continuam afugentando do país o capital estrangeiro de melhor qualidade, ou seja, aquele que fica por 10, ou 15 anos no país, ajudando para um crescimento estruturado. Segundo as estatísticas do setor externo, divulgadas na segunda-feira, 26, pelo Banco Central, o ingresso líquido em investimentos diretos no país (IDP) nos 12 meses encerrados em março de 2021 totalizaram 39,3 bilhões de dólares, 42,7% a menos que os 68,7 bilhões de dólares do mesmo período do ano anterior. Em contrapartida, o capital de curto prazo tem chegado, com alta em investimentos em ações e fundos.
Em relação ao PIB, o IDP no acumulado deste ano fica quase 1 ponto percentual abaixo que no ano anterior. “Não estamos vendo ainda o capital que entra para investimento em infraestrutura e de longo prazo, que historicamente é muito relevante para a balança comercial”, diz Paulo Duarte, economista-chefe da Valor Investimentos. “O mercado está preocupado com as fragilidades da nossa economia, principalmente com a possibilidade de juros muito altos”, diz ele.
Por outro lado, no primeiro trimestre de 2021, houve uma entrada no país de investimentos em ações na bolsa de valores e em fundos de investimento, de 2,71 bilhões de dólares e de 404 milhões de dólares, respectivamente. No mesmo período do ano anterior, os números eram muito piores, de saída de 13,7 bilhões de dólares em ações e a entrada de apenas 81 milhões em fundos de investimento.
Este tipo de capital é mais especulativo, de curto prazo, o que mostra que o país continua atraindo investimento internacional, principalmente devido à alta liquidez de recursos pelo mundo, mas os investidores desconfiam da estabilidade econômica brasileira por conta das intempéries domésticas. “O cenário político muito ruim coloca o Brasil em uma situação desfavorável dentro da cesta de outros emergentes”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. “A atratividade no ano é positiva, mas o futuro vai depender da sinalização de um cenário político mais estável”, diz ela.
Efeitos positivos do câmbio
Em transações correntes, houve uma melhora significativa do déficit do país. Nos doze meses encerrados em março de 2021, o total foi de um déficit de 17,8 bilhões de dólares, ante o saldo negativo de 71 bilhões de dólares no mesmo período do ano passado. Isso ocorreu por conta da desvalorização do real em relação ao dólar. Além disso, com a pandemia, os brasileiros consumiram menos bens e serviços no exterior.