Após uma concorrência de mais de dois anos, a Índia decidiu adquirir 126 caças Rafale da fabricante francesa Dassault, por um valor estimado de 12 bilhões de dólares, segundo fontes ouvidas pela agência France-Presse. Trata-se da primeira venda do modelo francês ao exterior. A negociação é tão importante para a França que garantirá a continuidade da fabricação dos caças. Desde que foram lançados, em 2000, os Rafale não conseguiram compradores fora do território francês. Em dezembro de 2011, o governo do país chegou a anunciar que seria inviável manter a produção sem nenhuma perspectiva de comprador.
O valor a ser pago pelo governo indiano é semelhante ao que o Brasil pagaria por 36 caças Rafale, caso a compra tivesse sido efetuada em 2010, quando o ex-presidente Lula esteve a ponto de fechar as negociações com a Dassault.
Processo longo – A Dassault concorria com o consórcio europeu Eurofighter, que apresentava o seu Typhoon. “A Dassault ganhou o contrato. Considerando que havia apenas dois grupos (na disputa), foi este que apresentou o menor preço”, declarou a fonte que não quis se identificar. O processo de escolha na Índia foi considerado um dos mais sérios já executados. Os aviões estão em testes no país desde julho de 2010. Já a produção envolverá um alto coeficiente de transferência de tecnologia, que culminará com a produção de 106 dos 126 jatos em território indiano.
Em 2011, a americana Boeing foi eliminada da concorrência justamente por não conseguir chegar a um acordo com a Índia sobre os trâmites de transferência de tecnologia. À Al Jazeera, o diplomata indiano Shashi Tharoor havia afirmado que a eliminação da Boeing se deu porque os caças Rafale e Typhoon teriam superioridade tecnológica e se adaptariam melhor às condições geográficas da Caxemira – região disputada pela Índia com o Paquistão e um dos possíveis locais de utilização dos jatos.
Segundo Tharoor, a Índia também havia encontrado problemas nas transferências de tecnologia dos Estados Unidos, tendo em vista que o país já havia suspendido encomendas contratadas e voltou atrás na entrega de produtos militares comprados por indianos em anos anteriores.
Rafale no Brasil – O caça da Dassault foi alvo de polêmica no Brasil entre 2009 e 2010. O modelo era o preferido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em negociação para reequipar a Força Aérea Brasileira (FAB). Lula, na ocasião, ignorou relatório do Comando da Aeronáutica, que avaliou o caça Gripen NG, da empresa sueca Saab, como o melhor para a renovação da frota, além de mais barato – e deu seu aval em favor da compra do Rafale, em um processo de licitação bem menos técnico do que o indiano. Até agora, porém, o governo brasileiro não tomou uma decisão sobre a compra dos jatos. Devido ao aperto orçamentário, a presidente Dilma Rousseff afirmou por diversas vezes que a compra seria postergada. Contudo, no final de 2011, quando o primeiro-ministro francês François Fillon visitou o Brasil, a presidente afirmou que poderia reconsiderar o processo de escolha e voltar a analisar o projeto em 2012.
Emirados Árabes – Antes de ter a resposta indiana e com as negociações congeladas no Brasil, a Dassault apostou suas fichas nos Emirados Árabes – com quem vinha negociando desde 2008. Contudo, essa venda – que já era dada como certa pela companhia – também subiu no telhado. O príncipe da coroa de Abu Dhabi, o Sheikh Mohamed bin Zayed, que também é responsável pelas forças armadas do país, afirmou em novembro que as conversas não avançaram, e que as condições oferecidas pela empresa são “impraticáveis”.
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