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Copom decide manter a Selic em 2% ao ano apesar de alta na inflação

Comitê considerou a alta de preços temporária e, dependendo do seu comportamento no ano que vem, a ferramenta forward guidance pode ser suprimida

Por Luisa Purchio Atualizado em 10 dez 2020, 22h55 - Publicado em 9 dez 2020, 18h38
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  • Nesta quarta-feira 9, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou a manutenção da taxa Selic em 2%, conforme as expectativas do mercado. A taxa atual é a menor da história. Esta é a segunda vez consecutiva que o colegiado decide por manter o patamar na mínima histórica.

    Na última reunião, realizada em outubro, o Comitê deixou em aberto a possibilidade de novos cortes residuais devido à necessidade da recuperação da economia diante da descontinuidade do auxílio emergencial. Na ocasião, porém, a inflação permanecia abaixo da meta, diferentemente do nível de preços atual, no qual pesam a valorização do real frente ao dólar e o aumento do consumo da população. Além disso, a possibilidade de a vacinação contra a Covid-19 acontecer no país no início ano que vem pode pressionar ainda mais os preços, impedindo uma redução maior da Selic.

    “As últimas leituras de inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços dos alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada. Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente”, diz o Copom em nota, ao justificar a decisão sobre a Selic.

    Em continuidade ao que vem afirmando ao longo do ano, o Comitê enfatizou a importância de haver esforços para manter o equilíbrio fiscal do país, impedindo assim um déficit ainda maior que o atual. O aumento dos gastos públicos com a crise sanitária e a queda da arrecadação fiscal, aliadas à paralisação da agenda econômica como privatizações e reformas, fizeram as contas públicas encerrarem o ano em cerca de 100% do PIB. “O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, afirma o documento divulgado nesta quarta.

    Sobre a “forward guidance” (prescrição futura, em português), ferramenta utilizada desde agosto pelo Copom para sinalizar por quanto tempo a taxa de juros se manterá no patamar atual, o Banco Central decidiu por mantê-la. “Apesar da elevação desde a última reunião, em particular para o ano de 2021, as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, permanecem abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas“, diz o documento. A sinalização já era esperada por parte do mercado, tendo em vista que, apesar de a inflação ter ultrapassado a meta para 2020, a projeção para 2021 ainda está abaixo da meta. “Todas as condições que o Copom colocou para a manutenção do forward guidance ainda estão válidas e acredito que isso mudará logo no primeiro trimestre do ano que vem por conta justamente de um avanço nas expectativas de inflação em direção à meta”, diz Victor Beyruti, analista da Guide Investimentos.

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    Os juros baixos, porém, podem não ser sustentáveis a longo prazo devido ao seu efeito colateral. Economistas chamam atenção ao risco fiscal do país. O aumento do endividamento público é um problema anterior à Covid-19. O ciclo de queda da Selic vem ocorrendo desde 2016, quando ela estava em 14,25%. Com a pandemia, esse quadro vem se agravando. Com menos arrecadação de impostos devido à desaceleração das atividades econômicas, o déficit fiscal do país entrou ainda mais em sinal de alerta. O risco Brasil pode ser verificado na discrepância entre a taxa básica, atualmente em 2% e os juros longos, que estão atualmente acima de 6% para títulos com vencimento a partir de cinco anos.

    No comunicado da reunião, o Copom afirma que o cenário que sustenta a manutenção do forward guidance pode não mais ser satisfeitas, “o que não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade. No cenário de retirada do forward guidance, a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos”. 

    Na prática, isso significa que o Banco Central monitorará o comportamento da economia no ano que vem após principalmente a extinção de incentivos fiscais como o auxílio emergencial, que impulsionaram o consumo da faixa populacional que recebeu o benefício e contribuiu com o aumento de preços. Conforme passar o ano, o BC vai entender se não precisa manter o comprometimento com o forward guidance, o que seria um sinal de que pode começar a reduzir os estímulos monetários por meio dos juros”, diz Silvio Campos Neto, sócio da Tendências. “Nós continuamos achando que a Selic subirá no quarto trimestre do ano que vem, mantendo os pilares fiscais”, diz ele.

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    CONJUNTURA ECONÔMICA

    Para decidir a meta anual da Selic, o Comitê considera dados sobre o cenário econômico atual como inflação, câmbio, atividade industrial e de serviços, mercado monetário, reservas internacionais, entre outros. De acordo com o último boletim Focus, da segunda-feira 7, o IPCA, que mede a variação de preços oficial do país, cresceu para 4,21% em 2020, acima da meta do Banco Central, de 4%. Para 2021, o Focus aponta IPCA de 3,34%, próximo à meta de 3,75% do BC.

    Já o dólar vem em trajetória de queda desde o início de novembro, após as eleições presidenciais americanas. No dia 28 de outubro, quando ocorreu a última reunião do Copom, o dólar comercial estava cotado a 5,759 reais, e fechou em 5,172 na quarta-feira, 9.

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