Símbolo da Páscoa e um dos doces mais venerados no mundo, o chocolate tem origem nas regiões tropicais das Américas Central e do Sul. Segundo uma lenda asteca, Quetzalcoatl, deus da Lua, roubou da terra uma árvore de cacau – fruto que é a matéria-prima do chocolate – para presentear seus amigos homens com uma delícia dos deuses. Na época, o costume dos indígenas da região era produzir uma bebida escura feita com as sementes fermentadas do fruto do cacaueiro batizada de tchocolath (tchocol, de amargo, e ath, de água).
O líquido foi levado à Europa por Fernando Cortez, espanhol responsável pela colonização do México. Ele ficara intrigado com a poção escura que os nativos bebiam e ofereciam aos deuses, porque ela dava a eles um vigor impressionante. “Uma taça da tal bebida permite aos homens caminhar um dia inteiro sem a necessidade de outros alimentos”, escreveu Cortez ao imperador Carlos V. A lenda e as propriedades do chocolate foram se difundido a ponto de influenciar o botânico sueco Carlos Linnaeus, que classificou o cacaueiro como theobroma cacao, do grego theo (deus) e broma (alimento).
A importância do fruto fez dele uma moeda de troca. Com dez favas (sementes) se comprava um coelho e com 100 favas, um escravo. As primeiras fábricas de chocolate foram abertas na Espanha e na França no fim do século 16, época em que o chocolate era feito apenas com cacau e açúcar. No entanto, em 1870, o chocolateiro suíço Daniel Peter, influenciado por seu conterrâneo, o químico Henri Nestlé, que inventara o leite condensado, resolveu juntar leite aos outros ingredientes da receita. Nascia assim o chocolate ao leite.
No Brasil, as sementes de cacau chegaram em 1746 trazidas por um francês que presentou Antônio Dias Ribeiro, um fazendeiro do Sul da Bahia, com algumas delas. O clima favoreceu o plantio e as lavouras cacaueiras prosperaram na região, que ficou conhecida pelos coronéis do cacau, fato que – inclusive – inspirou obras literárias do consagrado escritor Jorge Amado. A produção abundante levou os irmãos Neugebauer e o sócio Gerhardt, todos imigrantes alemães, a fundar a primeira fábrica de chocolate brasileira, em Porto Alegre, em 1891. Vinte e um anos depois, o cônsul suíço Achilles Izella lançou a pedra fundamental de outra marca nacional, a Lacta. Depois veio a Kopenhagen em 1928, a Garoto em 1929 e, em 1959, a suíça Nestlé começou a fabricar chocolates no Brasil.
A abundante oferta de matéria-prima atraiu grandes players, como a Cargill, até hoje a maior processadora de cacau da América Latina. De 1986 até 1990, o Brasil foi o segundo maior produtor mundial da commodity, chegando a produzir 458 mil toneladas de amêndoas/ano. Hoje, está em sétimo lugar do ranking com uma produção de 214 mil toneladas no ano passado. O declínio deixou as indústrias moageiras, aquelas que prensam o cacau para extração de manteiga de cacau e massa de cacau, com capacidade ociosa. Atualmente, elas importam matéria-prima para suprir a demanda das fábricas de chocolate do Brasil.
O declínio das lavouras cacaueiras se deve à introdução criminosa (como ficou comprovado) da vassoura-de-bruxa, praga que dizimou as plantações. No entanto, em 2016 a cadeia do setor lançou um plano para dobrar a produção brasileira de cacau em 10 anos. “Somos o único País do mundo que produz cacau, processa a amêndoa, fabrica chocolate e tem mercado consumidor”, diz Eduardo Bastos, diretor-executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).
De fato, há espaço para crescer. “O brasileiro consome em média 2,5 quilos de chocolate por ano, enquanto o suíço, o austríaco e o alemão consomem um volume superior a 7 quilos por pessoa/ano”, diz Ubiracy Fonseca, presidente da Abicab, associação que representa a indústria brasileira de chocolate e cacau. Nos últimos anos, cresceu o número de chocolatarias artesanais no Brasil, aquelas que trabalham no conceito Bean to Bar e fazem todas etapas da fabricação do chocolate desde a amêndoa até a barra. A exemplo do que aconteceu no mundo do vinho, a tendência é que se valorize cada vez mais a origem da matéria-prima e as características peculiares do chocolate feito com o cacau de uma determinada região.