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Companhias aéreas voltam a cortar número de voos diários após 10 meses

Malha aérea foi cortada em 14 pontos percentuais; escalada da pandemia pressiona contas de um setor que ainda não tinha se recuperado plenamente da crise

Por Diego Gimenes
Atualizado em 7 mar 2021, 01h52 - Publicado em 6 mar 2021, 07h30
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  • Ao contrário do que muitos imaginavam, a mudança dos ponteiros para o ano de 2021 não passou de uma mera formalidade. O sentimento é de uma continuação de 2020, pelo menos para o setor aéreo. Com a pandemia no Brasil em seu pior momento e a imunização ainda caminhando a passos lentos por aqui, as três grandes companhias que atuam em território brasileiro precisaram diminuir o número de voos diários para evitar viagens com assentos vazios.

    De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreos (Iata), o problema deve se estender pelos primeiros seis meses do ano. No último dia 25, a entidade afirmou estar claro que o primeiro semestre de 2021 será pior do que o previsto, uma vez que “os governos aumentaram as restrições de viagens em resposta às novas variantes da Covid-19”.

    No Brasil, os reflexos já foram sentidos neste início de ano. Em janeiro, as companhias aéreas atuaram, em média, com 74,9% da capacidade pré-crise. No mês seguinte, esse percentual caiu para 61,2%, segundo informações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que foram compiladas pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). Foi a primeira vez que as empresas cortaram voos desde abril de 2020, quando o setor praticamente paralisou suas atividades.

    Dados da ANAC indicam primeira retração do número de voos diários no país desde abril de 2020 -
    Dados da ANAC indicam, em fevereiro, a primeira retração do número de voos diários no país em 10 meses – (ABEAR/Divulgação)

    Procuradas por VEJA, as companhias confirmaram a redução. Por ter entrado em período de silêncio pela divulgação de resultados, a Gol foi a única que não retornou os questionamentos. A Latam afirmou que vinha retomando mensalmente a sua malha aérea doméstica, mas que precisou interromper esse ciclo em fevereiro e reduzir de 63% para 57% sua capacidade doméstica. Para os próximos meses, as revisões diárias das projeções “estão muito focadas no novo recuo dos voos domésticos”. Nos voos internacionais, a companhia atua com apenas 15% da sua capacidade, uma vez que as restrições de circulação de brasileiros em outros países aumentaram nos últimos meses, em função da variante manauara do novo coronavírus.

    A Azul costumava atuar com 900 voos diários antes da pandemia. Em dezembro, a companhia chegou a voar com 91% dessa capacidade, mas, agora, precisou revisar os números pelo aumento das restrições no país. Em março, a Azul deve operar com aproximadamente 600 voos diários, ou 68% da capacidade pré-crise. “A gente vê um movimento forte de cancelamento de viagens que nos obrigou a tomar ações imediatas de redução da malha aérea para os meses de março e abril”, afirma Marcelo Bento, diretor de relações institucionais da companhia. “Nossa leitura é de que algumas pessoas estão cancelando viagens a curto prazo, mas que as vendas futuras ainda estão em um bom patamar”.

    Na última quinta-feira, 4, a Azul divulgou o balanço financeiro do quarto trimestre de 2020. No período, a receita operacional totalizou 1,8 bilhão de reais, um aumento de 121,5% em relação ao trimestre anterior.

    Todavia, as estimativas da Iata apontam para uma queima de reservas das companhias, que pode atingir a faixa de 95 bilhões de dólares (540 bilhões de reais) a níveis globais em 2021. Antes, eram previstos 48 bilhões de dólares (273 bilhões de reais). “O único instrumento eficaz para a retomada das atividades é a vacinação em massa”, reitera Eduardo Sanovicz, presidente da Abear. “Com o dólar valorizado, a alta carga tributária e o querosene mais caro, as dificuldades vão continuar se avolumando. Nesse cenário, fazer qualquer tipo de previsão seria pura numerologia”.

    Um dos reflexos da baixa procura por passagens aéreas foi visto na precificação das tarifas. O bilhete aéreo doméstico de 2020 registrou o menor preço em 20 anos, ao se situar em 376,29 reais, uma queda de 14,5% em relação a 2019, quando a tarifa média havia ficado em 439,89 reais, segundo a Anac. O cenário das aéreas, que já não era muito favorável, pode se agravar nos próximos meses — mais uma prova de fogo para um importante setor que sempre mexeu com o lado lúdico e o desejo dos brasileiros.

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