A desvalorização do real não afeta comerciantes e consumidores apenas no território brasileiro. O governo do Uruguai admitiu nesta segunda-feira ter ligado seu sinal de alerta para o constante declínio da moeda brasileira – e, assim como no Brasil, também não está muito claro o que os uruguaios farão a respeito. “A desvalorização do real gerou impactos na relação comercial do Uruguai com o Brasil, tanto nas exportações como nos comércios (uruguaios) da fronteira”, disse o vice-ministro de Economia uruguaio, Pablo Ferreri. “É uma situação que nós monitoramos permanentemente e temos que analisar que medidas podem ser necessárias.”
Um dos desdobramentos mais arrasadores da queda do real é vivido na cidade de Chuy, que tem metade de seu território em solo brasileiro e a outra no Uruguai. Cerca de 60% dos 14.000 habitantes do lado sul estão desempregados, e “muitos negócios fecharam”, disse à Agência EFE a prefeita do lado uruguaio da cidade, Mary Urse.
Com a desvalorização do real, milhares de uruguaios passaram a cruzar a fronteira para comprar produtos incluídos em uma cesta básica familiar. São os únicos itens que os uruguaios podem levar do Brasil, com uma limitação de cinco quilos por pessoa. “Não podemos competir com o Brasil”, declarou a prefeita sobre a diferença de preços entre os dois lados da fronteira.
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Chuí e Chuy são separadas apenas pelo canteiro central de uma avenida, a Internacional, o que significa dizer que a origem dos problemas da metade uruguaia estão, literalmente, do outro lado da rua. Café, arroz e açúcar estão entre os itens mais procurados. No lado brasileiro pós-queda do real, esses produtos podem ser encontrados com preços até 50% menores que no Uruguai.
Contra-ataque – Para contrabalançar os efeitos colaterais da desvalorização da moeda brasileira, os comerciantes uruguaios pedem que o governo de seu país reduza impostos – e não apenas em Chuy, mas em toda a fronteira com o Brasil. O vice-ministro Pablo Ferreri disse que “as desonerações ainda não foram analisadas” para dar início à ofensiva de auxílio aos comerciantes – e ao comércio em geral entre os países -, mas disse que ela “sempre é uma ferramenta” a ser considerada.
A desoneração é um dos pedidos dos comerciantes da fronteira, mas não é o único. Há quem já tenha sugerido simplesmente proibir que os uruguaios atravessem a rua-fronteira no retorno para casa com seus sacos de café, arroz e açúcar. Segundo o vice-ministro, essa medida não chegou a ser discutida.
“O Brasil desvalorizou em pouco mais de 50% sua moeda neste ano, e essa é uma trajetória que nossa taxa de câmbio não pode e nem deve seguir”, disse Ferreri. Depois de dois dias de trégua, o real fechou nesta segunda com alta expressiva, de 3,36%. A cotação de fechamento, de 4,10 reais, é a segunda maior da moeda brasileira desde que ela foi criada, em 1994. A mais alta, R$ 4,14, foi alcançada no último dia 23.
De acordo com Carmen Ibarra, membro da Comissão Fiscal da Câmara de Comércio Uruguaio-Brasileira, as relações comerciais entre ambos estão “na expectativa” das atuações dos bancos centrais dos países e da “evolução da situação política brasileira”.
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(Com agência EFE)