Negociadores do Brasil e do México reuniram-se nesta quarta-feira para discutir como salvar o acordo automotivo bilateral. O Brasil, alarmado por um déficit comercial recorde de 1,17 bilhão de dólares com o México em 2011, quer revisar os termos do acordo de 2003, que liberou o comércio de automóveis e autopeças entre os dois países. “É uma etapa de diálogo e negociação para ver os termos do comércio automotivo”, disse um porta-voz da chancelaria brasileira. De um lado da mesa estará a Secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres. Do outro, o subsecretário mexicano de Comércio Exterior, Francisco de Rosenzweig.
A reunião em Brasília para salvar um acordo bilateral de 2,5 bilhões de dólares em 2011 foi combinada no fim da semana passada pela presidente Dilma Rousseff e pelo presidente mexicano Felipe Calderón em uma conversa telefônica. Contudo, um comunicado divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior do México disse que o objetivo era apenas “conhecer as inquietudes” do Brasil. “Devido à importância econômica do ACE 55 (Acordo de Complementação Econômica), o governo mexicano não buscará renegociá-lo”, afirmou a chancelaria.
Ameaça de rompimento – Atingido pela apreciação do real e pressionado por estimular sua economia diante da crise mundial, o Brasil já adotou outras medidas protecionistas como um forte aumento das taxas de importação dos automóveis no ano passado. Na semana passada, o país ameaçou romper o acordo com o México para conter um aumento das compras externas, que levou em janeiro ao primeiro déficit comercial em dois anos.
Para as montadoras nacionais, é conveniente importar automóveis e peças do México. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Brasil importou automóveis mexicanos em 2011 por 2,07 bilhões de dólares e exportou veículos ao país por apenas 372 milhões de dólares.
A ameaça brasileira foi amplamente interpretada como uma estratégia para forçar negociações. O Brasil tem dito que pretende aumentar a exportação de caminhões, ônibus e veículos comerciais ao México. Outra proposta seria redesenhar o esquema de produção complementar acertado em 2003, segundo o qual o Brasil concentrou-se na fabricação de automóveis compactos e o México em veículos com maior valor agregado.
“Seguramente vão encontrar uma solução. Qualquer coisa que for acordada será em função das grandes empresas”, disse Luiz Carlos Mello, analista da indústria e ex-presidente da Ford do Brasil.
(com Reuters)