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A missão ingrata de Guedes para reconquistar o respaldo do mercado

Ministro afirma que quer dar vazão à agenda liberal para "pagar empréstimo" tomado pelo drible no teto de gastos

Por Victor Irajá 22 out 2021, 16h30
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  • O ministro da Economia, Paulo Guedes, espera que alguns tiros certeiros possam reverter a desconfiança em torno de sua manutenção no cargo e da condução da economia. Em conversas privadas, ele afirma ter sido derrotado no imbróglio envolvendo o pagamento do Auxílio Brasil de 400 reais, mas repete que se trata, apenas, de “um empréstimo”. O empréstimo, vale dizer, de mais de 80 bilhões de reais, montante extra no teto de gastos que seria viabilizado pela PEC dos precatórios. Ele agora precisa provar que pode dar continuidade à agenda de privatizações, além da reforma administrativa e da aprovação da reforma do Imposto de Renda (IR).

    O caminho, porém, não será nada fácil. A estratégia é trocar a derrota no Auxílio Brasil por vitórias em outros temas caros ao Ministério da Economia. Em contrapartida por ter cedido à ala política quanto ao financiamento do programa social, Guedes espera, agora, que privatizações e a reforma administrativa aplainem o rombo no teto de gastos.

    A forma para conseguir avanço nesses temas é por meio de parceria com Arthur Lira, presidente da Câmara, que vem conseguindo passar demandas da Economia em plenário e de forma rápida. O problema está no Senado. Apesar de argumentar, em conversas privadas, que tem em Rodrigo Pacheco, presidente da Casa, um aliado, o ministro comenta que a reforma do Imposto de Renda sucumbiu no Senado por interesses de “políticos que são empresários”, que seriam afetados por pontos do texto como a cobrança de impostos sobre dividendos — que é altamente impopular também entre investidores e muitos economistas.

    Lira, por sua vez, já nem esconde mais sua insatisfação com o travamento de reformas por parte dos senadores. Ele repete aos seus pares que, de nada adianta aprovar medidas impopulares, se o Senado não fizer os projetos avançar. Por isso, ele e Guedes veem o andamento da reforma do Imposto de Renda no Senado com dificuldade, apesar da boa vontade de Pacheco. Alguns membros do Ministério da Economia são ainda mais categóricos e afirmam que “a reforma do IR” morreu.

    Concomitantemente, o presidente da Câmara é induzido por ministros lotados no Palácio do Planalto a não se preocupar com a reforma administrativa. Lira mostra-se frustrado com a falta de apoio do Executivo em relação à pauta. “Não quero me queimar sozinho”, afirma ele a deputados, já que essa reforma afetaria benefícios de servidores públicos, os quais garantem muitos votos. Em meio a todo esse cenário, fica claro que Guedes, enfraquecido politicamente e com tantos obstáculos pela frente, terá dificuldades para conseguir as contrapartidas que deseja para o apoio que deu ao projeto de furo do teto de gastos — e que até fez perder membros importantes de sua pasta, que pediram demissão ontem.

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