Nos anos 1930, mais de quarenta anos após a abolição da escravatura no Brasil, um grupo de cinquenta garotos foi levado de um orfanato no Rio de Janeiro para uma fazenda no interior de São Paulo, onde viveu em regime análogo ao da escravidão. A história é contada no documentário Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil, de Belisario Franca, que estreia em 7 de julho.
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Na fazenda, que pertencia a uma família com inclinações nazistas, os meninos eram identificados apenas por números – o 23, que dá nome ao filme, se chamava, na verdade, Aloísio Silva. No vídeo abaixo, exclusivo do site de VEJA, estudiosos e familiares de José Alves de Almeida, chamado de Dois, comentam a rotina dele na época. O menino, ao contrário da maioria dos garotos escravizados, trabalhava dentro da casa da família, e não na lavoura.
https://www.youtube.com/watch?v=14hx-q8tPgg
“O Brasil tem essa característica cultural interessante e trágica de que você salva explorando”, diz o sociólogo José Luis Solazzi em depoimento. “Quando você tem uma criança de 10, 12 anos, e a traz para a sua casa para lavar a louça, acha que a está salvando da pobreza, mas na verdade a insere em um regime de escravismo cotidiano.”
O documentário é baseado na tese de doutorado Educação, Autoritarismo e Eugenia: Exploração do Trabalho e Violência à Infância Desamparada no Brasil (1930-1945), do pesquisador Sidney Aguilar Filho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 1998, ele dava uma aula sobre nazismo para uma turma de ensino médio quando uma aluna contou que, na fazenda onde sua família morava, havia centenas de tijolos marcados com a suástica, símbolo da ditadura alemã.
(Da redação)