Filha de uma senhorinha católica que a levou para ver o Papa João Paulo II em sua passagem pelo Brasil em 1979, quando recebeu uma beijoca do pontífice, Celeste (Monica Iozzi) é em tudo correta. Namora sério e, advogada que é, atua do lado da Justiça. Até conhecer Abelardo Zebu (Tony Ramos), de apelido Abel Zebu, um cacófato que indica bem de que lado ele samba. Abel Zebu entra na vida de Celeste causando faíscas – e um apagão, como se viu no capítulo de estreia de Vade Retro, na cena em que ele deixa São Paulo inteira no escuro. Apesar das faíscas promissoras, a nova série de Fernanda Young e Alexandre Machado teve uma estreia mediana, para não dizer chocha, na noite desta quinta-feira na Globo. Piada precisa de ritmo, de timing, e, ao menos nesse primeiro episódio, Vade Retro se mostrou bem arrastada no texto e na direção.
Exceto por uma ou outra cena, como quando Celeste toma banho com direito a sonoplastia, o capítulo de estreia frustrou quem esperava rir mais com a série do que com o humor involuntário de Gloria Perez em A Força do Querer, a novela das 9 exibida antes. Faltou aos diálogos a afiação que Fernanda Young e Alexandre Machado imprimiam às falas de Rui (Luís Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) em Os Normais, humorístico que ainda é o destaque no currículo do casal de roteiristas. Lentas e de conteúdo pouco inspirado, as falas passaram longe da esgrima verbal que se espera de uma comédia, especialmente as de Celeste.
Em parte, porque Monica Iozzi, apesar do pendor natural que demonstra para o humor, ainda lembra demais aquela apresentadora da bancada do Vídeo Show – até pela carga de alheamento e ingenuidade que a personagem carrega. Juliano Cazarré, como o namorado de Celeste, Cecília Homem de Mello como Leda, a religiosa mãe das advogada, e a ótima Maria Luisa Mendonça como Lucy Fergson, a mulher encapetada de Abel Zebu, são potenciais ainda mal explorados da trama, que podem render mais nos próximos episódios.
Neste primeiro capítulo, o destaque foi mesmo Tony Ramos, que prova mais uma vez a sua capacidade de fazer diferentes papéis e atuar em gêneros diversos. O lobista Abel Zebu não é apenas um vilão, mas um vilão cômico, trabalho fora da curva na trajetória do ator acostumado a dar vida a mocinhos. E Tony Ramos não apenas cumpriu bem o papel. Ele conseguiu dar vigor ao texto por vezes banal de Vade Retro.