Para alguns milhares de saudosos roqueiros, as lembranças do primeiro Rock in Rio vem com alguma lama, poeira e muitos relatos de ‘perrengues’. Faz parte, é o que costuma dizer quem não se incomoda de passar horas em pé, ou até viajar alguns dias de ônibus para participar daquele breve momento. Por mais que os apertos não sejam capazes de afugentar o público, o sucesso de um evento de grandes dimensões há muito tempo deixou de ser medido apenas pela velocidade com que se esgotaram os ingressos.
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Não importa o quanto o terreno enlameado tenha deixado de saudade. O Rock in Rio chega a sua quarta edição com um conceito bem mais complexo que o de palcos, muita potência sonora e uma grande área para o público fazer o que bem entender durante os shows. Em relação à lama, a diferença nesta edição está nos 40 mil metros quadrados de grama sintética que vão revestir a área destinada ao público. E também em um ‘pequeno’ detalhe: o festival, desta vez, acontece em setembro, não em janeiro, mês em que tradicionalmente as chuvas de verão mostram que os gestores subestimaram o volume de água no Rio de Janeiro. A um mês da festa, 320 pessoas trabalham na montagem do evento. A previsão é de que esse número seja dobrado nos próximos dias.
O sucesso e as falhas do Rock in Rio 4 significam mais que o desempenho dos organizadores de shows e dos roqueiros brasileiros. O Rock in Rio hoje é uma marca internacional, e acabou inserido em uma agenda já em andamento, iniciada com o sorteio dos grupos das eliminatórias da Copa de 2014, no Brasil, e que se estende com dezenas de eventos até 2016, quando o Rio recebe os Jogos Olímpicos. Nesse percurso, estão a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e todo tipo de repercussão internacional sobre a capacidade da cidade para receber milhares – ou milhões – de visitantes.
O teste para a cidade começa pela principal deficiência de infraestrutura do Rio: transporte de massa. Para os dias de show – 23, 24, 25, 29 e 30 de setembro, e 1º e 2 de outubro – foram criadas linhas especiais de ônibus, recomendadas pelos organizadores como a melhor e mais segura forma de se chegar à Cidade do Rock. Carros estão proibidos de circular no entorno do evento. Só para lembrar: grandes espetáculos no Rio entraram para a história não pela música, mas pelo transtorno que causaram, como foi o caso da apresentação do U2 no autódromo – bem próximo da Cidade do Rock -, em 1998.
A intimidade do Rock in Rio com os Jogos Olímpicos é grande. O festival será o primeiro evento no Parque Olímpico, que, depois da festa, começa a ser convertida em área de competições a caminho de 2016. Muitas das estruturas, portanto, não são temporárias, o que serve desde já para planejar um evento com menos jeito de coisa temporária.
Os banheiros, na quarta edição, têm uma diferença crucial. Os sanitários químicos estão fora do plano, e darão lugar a banheiros de verdade. Em números: 500 vasos e 200 metros de calhas de urinol, divididos em sete grupos distribuídos estrategicamente pelo terreno da Cidade do Rock. A ideia é que ninguém precise andar mais do que 40 metros para encontrar um banheiro.
“O terreno tem o formato de uma guitarra, com mais de 120 mil metros quadrados. Ao longo dessa área, fomos distribuindo todos os serviços, como bares e banheiros. Aliás, onde tiver um bar terá um banheiro”, conta o engenheiro Walter Ramires.
Os banheiros serão montados dentro de contêineres, que receberão vasos sanitários e lavatórios de louça. Haverá ainda paredes de tijolo, estrutura metálica e revestimento cenográfico com programação visual.
Como essa área será transformada no Parque dos Atletas para os Jogos Olímpicos, o projeto previu a criação de infraestrutura de água e esgoto. Uma rede de tubulação de 2,5 quilômetros ligará a Cidade do Rock à Estação Elevatória de Esgotos Bandeirantes, em Jacarepaguá.
Historicamente, os banheiros são o grande inconveniente para o público dos megaeventos – a exemplo do carnaval de rua do Rio e Janeiro. Mas nem sempre há alternativa viável.
“O banheiro público é um grande problema sempre. Em grandes eventos, há uma demanda enorme concentrada nos intervalos. Mas sempre se pode fazer melhor. Desde Portugal, a gente vem batalhando para viabilizar instalações de água e esgoto para usar um banheiro real. Para nós, o banheiro deve ser como um estande: limpo, bonito e funcional”, afirma Ramires.
Como a redução dos intervalos entre as atrações, a ideia é que o público precise se deslocar o mínimo possível. Além dos banheiros e bares espalhados pelo local, haverá 300 ambulantes vendendo bebidas. Mesmo assim, vai ser difícil resistir à tentação de dar umas voltas pela Cidade do Rock.
“Acho que as pessoas devem se deslocar mesmo assim. Porque tem tanta coisa para fazer. Os brinquedos, como roda-gigante, tirolesa, montanha-russa e kaboom, ficarão distribuídos ao longo da Cidade do Rock. É também uma forma de evitar uma grande aglomeração num único ponto”, argumenta o engenheiro.