‘Santo Forte’ promete mais do que entrega
Primeira série nacional no canal AXN acompanha trama de taxista vidente com corpo fechado
João da Cruz Forte (Vinícius de Oliveira, de O Rebu e Central do Brasil) é um taxista vidente, dom herdado de uma dívida com um pai de santo. Quando tem visões sobre a vida dos passageiros que pega pelas ruas do Rio de Janeiro, João é obrigado a ajudá-los e até desembolsar uma quantia em dinheiro. Algumas das tarefas colocariam sua vida em risco, não fosse o fato de que ele tem o corpo fechado. Esta é a premissa de Santo Forte, nova série original da AXN, a primeira totalmente nacional. O canal conhecido por exibir produções intensas e misteriosas, como CSI, Hannibal e American Crime, prometeu uma estreia brasileira digna de sua programação, com elementos de realismo mágico e cenas fortes. Porém, o primeiro episódio de Santo Forte fica aquém dessa promessa.
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O capítulo inicial, exibido pelo canal pago na noite deste domingo, mostra João sendo encarregado da primeira missão que o expectador o verá realizar – mas não a primeira de sua vida. O taxista recebe em seu veículo uma idosa com o braço imobilizado na porta de um hospital. Ao deixá-la em casa, ele toca no dinheiro que ela o entrega como pagamento e tem uma visão violenta sobre a passageira. A nota é levada para Celso (Thiago Justino), um médium dono de um bar, que conduz João a um cômodo do estabelecimento, onde ele incorpora a entidade que conversará com o taxista sobre o caso.
A partir daí, o protagonista possui a obrigação de ajudar a senhora, que acabou envolvida sem merecer em uma alta dívida com um agiota. Enquanto se esforça para lidar com a tarefa, João também se vê envolto em um drama familiar pessoal, causado pelas longas horas fora de casa, que o distanciam da esposa Dalva (Laila Garin) e de seus dois filhos adolescentes.
A série tem diversos pontos altos, como a ideia original com elementos da cultura brasileira, além da eficiência do mistério. Pouco é entregue no episódio piloto. Não se sabe como João contraiu a dívida com o pai de santo, por que ele tem o corpo fechado, muito menos como era sua vida antes do dom com viés de maldição. Ao que tudo indica, o personagem Fábio (Guilherme Dellorto), jornalista que se interessa por descobrir quem é o taxista imortal, será responsável por desvendar segredos para o espectador. A qualidade técnica da filmagem e fotografia e a fuga dos estereótipos da religião são outras boas surpresas do programa.
O problema que decepciona é o roteiro desenvolvido de forma pobre. As falas são óbvias e simples e o protagonista não convence. João é inicialmente vendido como o anti-herói, desinteressado em cumprir sua missão de ajudar as pessoas – chega até mesmo a reclamar do árduo trabalho que nunca acaba. Porém, ao longo do capítulo ele se mostra um bom moço, o completo herói melodramático, que mesmo depois de se ver livre da obrigação que a entidade lhe impõe, continua a se sacrificar para perseguir o bem do próximo.
No total, a série vai contar com 13 episódios e a promessa de um melhor desenvolvimento das subtramas. Cabe ao diretor Roberto D’Ávila (Sessão de Terapia) uma missão mais árdua que a de João: salvar o programa do tédio.