Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Sangria desatada

Em sua segunda temporada, 'O Mecanismo', da Netflix, pulveriza a crítica enquanto se esforça para manter a relevância em uma realidade que desafia a ficção

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 Maio 2019, 07h00 - Publicado em 10 Maio 2019, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A matéria-prima da série é complexa mas rica: a maior operação já rea­lizada no Brasil para devassar a corrupção das altas esferas do governo e das estatais. Criada e produzida por José Padilha, O Mecanismo retorna à Net­flix em nova fase com dois desafios quase tão difíceis quanto esmiuçar a contabilidade do infame “departamento de operações estruturadas” da Odebrecht. O primeiro é manter-se relevante e interessante depois dos mais recentes desdobramentos da política brasileira — entre eles, a pirueta de Sergio Moro, que julgou os agentes do tal “mecanismo” e depois virou ministro do governo Bolsonaro. O segundo é, em tempos de polarização política, ampliar o alcance de suas farpas críticas. Padilha, que em artigo recente no jornal Folha de S.Paulo fez um quase mea-culpa por já ter confiado em Moro, respondeu ao primeiro desafio tratando o personagem do juiz (que na série se chama Rigo e é vivido por Otto Jr.) com uma dose maior de reticência. E, se na primeira temporada o PT aparecia como o principal agente do mecanismo, agora é o PMDB (hoje MDB) que desponta, em uma cena na qual o delegado Ruffo (Selton Mello) explica o esquema, como a base da corrupção.

    Publicidade
    VILÃO – Brecht: empreiteiro caviloso (Karima Shehata/Netflix/Divulgação)

    Padilha sabe como tratar roteiros de ritmo intenso, e essa segunda temporada está mais envolvente e explosiva que a primeira. A história tem seus mocinhos e vilões folhetinescos. Entre os primeiros, a delegada Verena (Caroline Abras) cresce e tira do irritante Ruffo o posto de protagonista. O juiz Rigo é alfinetado pela divulgação ilegal do grampo que registrou uma conversa entre João Higino e Janete (ou Lula e Dilma). Mas quem faz os oito novos episódios pulsar são os dois afiados e opostos vilões (e seus excelentes atores): o doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Diaz) e o empreiteiro Ricardo Brecht (Emilio Orciollo Netto), que são versões de Alberto Youssef e Marcelo Odebrecht. Ao fundo, uma conspirata prepara o impeachment de Dilma, aliás, Janete (Sura Berditchevsky). As versões paralelas de Michel Temer, Aécio Neves, Eduardo Cunha e Gilmar Mendes organizam a derrubada da presidente, com o apoio da imprensa — e aqui Padilha escorrega feio e dá a versão petista da história, embora diga que Dilma seja ela mesma culpada pelo “golpe” que sofreu (leia a entrevista).

    Publicidade

    Na primeira temporada, os petistas se enfureceram porque João Higino (Arthur Kohl) dizia uma frase que, na verdade, era do emedebista Romero Jucá, sobre a necessidade de “estancar a sangria” — vale dizer, parar as investigações de Curitiba. Lula, que ainda não estava preso, ameaçou até processar a Netflix (não o fez). A frase agora reaparece na boca do Aécio da ficção. Para colocar um pé em uma próxima temporada — ainda não confirmada pela Netflix —, Padilha introduz Jair Bolsonaro na trama, e elucubra sobre o inesperado resultado da Lava-Jato: com tantos partidos envolvidos na corrupção sistêmica, pondera um dos mocinhos da trama, formou-se “um vazio bem perigoso” na política. Para bom entendedor, meia sangria basta.

    Publicado em VEJA de 15 de maio de 2019, edição nº 2634

    Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA
    Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.