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Rita Lee sobre o hit ‘Baila Comigo’: ‘Um sopro de uma entidade indígena’

Cantora e Roberto de Carvalho destrincham para a VEJA os bastidores das oito faixas de um de seus maiores sucesso, o disco 'Rita Lee (Lança Perfume)'

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 nov 2020, 17h51 - Publicado em 16 nov 2020, 17h46

Com uma tiragem exclusiva de 500 exemplares numerados, Rita Lee e Roberto de Carvalho relançaram recentemente uma edição especial em vinil de um de seus principais sucessos, o álbum Rita Lee (também conhecido como Lança Perfume), de 1980. As oito faixas, Lança Perfume, Bem-Me Quer, Baila Comigo, Shangrilá, Caso Sério, Nem Luxo Nem Lixo, João Ninguém e Ôrra Meu, mudaram a cara do pop e rock no Brasil e transformaram o álbum em um dos mais vendidos do país com mais de 800 mil cópias.

Embora as vendas do LP sejam exclusivas do site da Universal Music (169,90 reais) e o formato vinil seja majoritariamente consumido por colecionadores, a primeira leva de cópias está se esgotando e a gravadora já encomendou outras 500 unidades. O número de discos parece incipiente se comparado com a milhares de cópias vendidas no passado, mas para a realidade atual, trata-se de um número expressivo. Para celebrar o lançamento, a pedido da reportagem de VEJA, com exclusividade Rita Lee destrinchou os bastidores das quatro primeiras faixas do disco e Roberto de Carvalho, as outras quatro. Confira a seguir:

Relançamento do vinil de 1980 de Rita Lee sai em mídia translúcida (//Divulgação)

RITA LEE

Lança-Perfume: Em termos de sucesso em quase todo o planeta, Lança Perfume foi, sem dúvida, o maior. Foi parar até na Billboard. Vários artistas de diversos países gravaram versões dela. Confesso que minha memória não guarda quase nada do dia em que foi gravada, mas lembro que o clima no estúdio era de pura farra, comemorando um futuro hit.

Bem-me-quer: A letra contém uma safadeza, brincando com o nome de flores de duplo sentido. O refrão é chiclete e a levada é realmente a mais roqueira. É a música favorita de Gal Costa e já a cantamos juntas em algumas ocasiões.

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Baila Comigo: Ela me veio inteirinha em sonho, letra e melodia. Quando acordei, anotei a letra e fiz a harmonia no violão. Sinto que Baila Comigo foi um sopro vindo de alguma entidade indígena. Não costumo ouvir nenhuma música minha em casa, aliás, não tenho um disco meu. Depois de mixar, deleto tudo da cabeça e parto para outra.

Shangrilá: Na verdade, o disco [em que Shangrilá deveria ser lançado] foi todo censurado (risos)… Entre elas Shangrilá, que se chamava então Bad Trip e falava em dar um tiro na cabeça y otras cenas trágicas de alguém que enlouquecia com a cena política da época. Quando mostrei para Roberto, ele modificou toda a parte B da música e isso me inspirou a refazer uma letra mais romântica.

ROBERTO DE CARVALHO

Caso Sério: Caso Sério, na essência, quando foi feita, era uma bossa nova, mais para João Gilberto do que propriamente um bolero. Nós íamos para o estúdio com as músicas prontas e formatadas e apresentávamos para os músicos. Na medida em que ficávamos repetindo, até gravar, o som ia se configurando, de uma maneira orgânica. Não havia um ponto de partida bolero, e nem acho que essas músicas sejam boleros no sentido clássico: são canções pop e, sendo assim, todo tipo de influência entra no liquidificador de ritmos e sonoridades. Agora, ouvi muita música latina, desde criança, e num momento pós-Beatles, ouvi muito Santana. Então, do ponto de vista de influência musical, se juntar João com Beatles e Santana, acho que dá para chegar na gênese de Caso Sério, que tem o mesmo DNA que Mania de Você. Mas isso numa análise de agora, porque na época o que a gente pretendia era fazer algo original, pop, latino (afinal somos todos latinos aqui, certo?), que fosse sofisticado, mas simples, popular, com muita personalidade e quebrando eventuais estereótipos que estivessem associados à Rita por conta de trabalhos anteriores.

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Nem Luxo, Nem Lixo: Morar numa floresta, cercado pela Mãe Natureza, sempre foi a utopia predileta, afinal somos hippies na essência. Quanto a luxo, bom, luxo mesmo é simplicidade, é poder se sentir livre. Esse disco foi feito debaixo de ditadura, com músicas censuradas, vai e vem de advogados tentando conseguir liberação. A gente vinha de uma época dificílima, de prisão, de problemas financeiros, legais, com dois filhos pequenos, e num momento pós Mania de Você, que foi um sucesso enorme. Então, ainda havia a expectativa à volta de que num momento seguinte, a vaca iria para o brejo. A letra da Rita é um primor e atual. Continuamos todos numa canoa furada, remando contra a maré.

João Ninguém: Desculpe a falta de modéstia, não sei quanto a críticos, mas o disco foi considerado uma obra-prima do pop rock no ato: por aclamação popular, foi um sucesso gigantesco, imediato. E meu pragmatismo fala mais alto. A medida de sucesso é a repercussão, é estar no cantarolar das pessoas, é estar tocando em todo lado, é realizar uma obra que se transforme num dos símbolos da memória de um certo tempo, via cultura popular, para assim se tornar atemporal.

Ôrra Meu: Não sou muito obsessivo em relação à qualidade de som. Sempre ouvi muita música dos anos 1930 e 1940, e o som não é grandes coisas. A melhor maneira de ouvir música para mim é ao vivo. Seja em show, estúdio ou em casa. Adorei o relançamento em vinil, uma homenagem e tanto, e ficou lindo. Ôrra Meu, a última música do disco, a mais rock, feita só pela Rita, é muito simbólica e joga uma dinâmica necessária no bolo. Passa meio despercebido o fato de que a Rita é São Paulo e eu Rio de Janeiro. Nossa música é muito representativa dessa fusão de SP com Rio. E o disco foi gravado no Rio, com músicos e produtor (Guto Graça Mello) cariocas, então, é necessário um contrapeso, e é lógico que o grand finale seja uma ode a Sampa. Afinal, a estrela do disco é a sua mais completa tradução.

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