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Quem é Junior Rostirola, o pastor evangélico que virou autor best-seller

Ele fundou uma igreja após superar seu passado difícil e hoje fatura com 'Café com Deus Pai'

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 Maio 2024, 17h22 - Publicado em 10 fev 2024, 08h00

Quando tinha 13 anos, Domingos Rostirola Junior vivia um inferno pessoal. Em casa, o pai alcoólatra batia em sua mãe, nele e nas três irmãs mais velhas. Na escola, apanhava dos colegas, o que o fez abandonar os estudos. Certo dia, uma vizinha lhe fez um convite: acompanhar o louvor na Igreja do Evangelho Quadrangular em Itajaí, cidade de Santa Catarina onde ele nasceu e mora até hoje. “Quando eu cheguei lá e ouvi a música, me senti em casa pela primeira vez na vida”, relembra. Bisneto de um imigrante italiano pelo lado paterno, Junior conta que o antepassado batia em sua bisavó, comportamento replicado por seu avô e depois pelo próprio pai. Por causa das agressões, sua mãe chegou a abortar três vezes até adotar uma menina, e enfim conseguir paz para dar à luz a mais três crianças, sendo ele o caçula e único filho homem de uma família forjada pelos abusos constantes. No leito de morte, em decorrência do alcoolismo, o pai pediu perdão. “Deus tocou nele ali, eu senti”, diz.

Café com Deus Pai 2024: Porções Diárias de paz

Em uma jornada de superação digna de filme de Hollywood, Rostirola se apoiou na igreja, indo diariamente aos louvores sozinho, atravessando vários bairros em uma bicicleta capenga e precisando desviar dos valentões que às vezes cruzava no caminho. Lá, ganhou forças para voltar a estudar. Entre bicos como atendente de bar e ajudante de pedreiro, conheceu em um dos cultos uma moça, Michelle, subiu ao altar com ela (tiveram um casal de filhos), formou-se em teologia — e, com a graça do destino, a esposa recebeu uma herança que lhe permitiu fundar a própria igreja, a Reviver, que hoje conta com 7 000 fiéis em Itajaí.

Café com Deus Pai: Porções Diárias de Renovação

O passado traumático inspirou o pastor — hoje convertido simplesmente em Junior Rostirola — a escrever Café com Deus Pai, livro devocional que tem a proposta de fazer o leitor reservar um tempo do dia para conversar com Deus. A aposta rendeu ao religioso o posto de autor nacional mais vendido de 2023, com 190 000 cópias da edição publicada pela Editora Vida — colocando-o no topo da lista de Mais Vendidos de autoajuda de VEJA e apenas 50 000 abaixo de É Assim que Acaba, ficção da campeã de vendas americana Colleen Hoover.

FAMÍLIA - Com a esposa, Michelle, os filhos e a nora: ciclo de violência rompido
FAMÍLIA - Com a esposa, Michelle, os filhos e a nora: ciclo de violência rompido (@juniorrostirola/Instagram)

Tradição no cristianismo que ganhou força entre evangélicos, os livros devocionais oferecem pílulas diárias inspiradoras, com conselhos ancorados em trechos bíblicos. Somado a isso, geralmente oferecem uma “tarefa”, como um espaço para a escrita do leitor ou um tema para a oração do dia. O formato tem ainda um nome popular curioso: obras do tipo também são chamadas de “pão diário”. É uma referência à história bíblica na qual os hebreus libertos do Egito pelo patriarca Moisés vagam pelo deserto por quarenta anos — período no qual, relata o livro sagrado, o povo era alimentado por Deus com o maná, um pão que caía do céu diariamente.

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Café com Deus Pai

Lançada há poucas semanas, a versão de 2024 de Café com Deus Pai — agora sob o selo Vélos, editora criada por Rostirola para cuidar de suas obras — já teve 180 000 edições vendidas segundo levantamento da Bookinfo, empresa de tecnologia que monitora os números do mercado editorial com base em mais de 450 livrarias. Segundo a Vélos, porém, só neste ano o diário mais recente já teria vendido 1,2 milhão de cópias, somando o desempenho de livrarias, do site oficial e da comercialização interna em igrejas. Nos Estados Unidos, o filão é altamente lucrativo, sendo a autora e apresentadora cristã Sarah Young uma representante de peso: sua série de livros O Chamado de Jesus, publicados no Brasil pela Thomas Nelson, chegou a 45 milhões de cópias vendidas no mundo.

O chamado de Jesus

Antes dos livros, Rostirola já era popular no meio evangélico. É tido como um pastor moderninho, capaz de estender as mãos inclusive ao público LGBTQIA+ em sua igreja (leia a entrevista abaixo). Na política, seguiu a tendência de seus pares conservadores nas últimas eleições, pedindo votos para Jair Bolsonaro — embora hoje negue o rótulo de bolsonarista. “Conheço muitas pessoas, mas isso não quer dizer que eu concorde com tudo que fazem”, justifica. O pastor contabiliza 640 000 seguidores só no Instagram, onde posa em fotos que evidenciam seu físico marombado. “É preciso cuidar do corpo e da alma”, diz ele, que se divide entre palestras, projetos sociais e a igreja. O best-­seller da fé é incansável.

“Somos muito abertos”
Em entrevista a VEJA, Junior Rostirola evita associações políticas e fala do trabalho como mensageiro da fé:

ENCONTRO - Café com Jair: ele pediu votos para o ex-presidente
ENCONTRO - Café com Jair: ele pediu votos para o ex-presidente (@jrostirola/Facebook)

O senhor apoiou Jair Bolsonaro nas eleições. Ainda é próximo da família Bolsonaro? Na verdade, eu não sou próximo deles. Eu, como líder religioso, recebi convite para ir até o Planalto para tomar um café com Bolsonaro quando ele era presidente. Ele defendia algumas coisas que eu achava interessantes, e aceitei. Se o Lula quiser me chamar, eu também vou.

Lula tem tido dificuldade em se aproximar dos evangélicos. Por que essa resistência? Há alguns princípios que precisam ser defendidos e alinhados, mas o povo evangélico sabe sentar e ouvir, então essa aproximação pode acontecer. Somos muito abertos.

Quando descobriu a vocação para pastor? A partir do momento em que pisei numa igreja, porque Deus me fez um bom pai, algo que nunca tive, e escritor de um livro que leva Deus às pessoas.

Sua igreja recebe pessoas da comunidade LGBTQIA+? Claro. Ela está com as portas abertas, e eu não posso dizer que não pode entrar A, B ou C. Aqui não fechamos a porta para ninguém.

Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2024, edição nº 2879

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