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Precisei me reinventar, diz advogado que perdeu a esposa em acidente

Rodrigo Leite Segantini mudou toda a sua vida para cuidar do filho, Arthur

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 fev 2021, 10h47 - Publicado em 26 fev 2021, 06h00
RODRIGO SEGANTINI e ARTHUR SEGANTINI -
RODRIGO SEGANTINI e ARTHUR SEGANTINI – (Ricardo Benichio/.)

O ano era 2009. Minha mulher, Adriana, anunciou que estava grávida — de gêmeos. Foi um susto. Embora desejada, não foi uma gravidez planejada. Seguimos felizes e passamos a tomar os cuidados necessários para que não houvesse problemas. Mas houve: no terceiro mês, um dos bebês não resistiu. Arrasados, tínhamos um motivo para seguir firmes, o outro bebê estava vivo e inspirava atenção especial. Arthur nasceu em 9/9/9, pesando 1,53 quilo (1+5+3 = 9), medindo 45 centímetros (4+5 = 9), às 8h10 (8+1+0 = 9). O único 9 que precisava ter ele não tinha: nasceu de sete meses e foi logo levado para a UTI. Desenvolvera uma infecção no intestino e, com apenas 20 dias, teve de passar por quatro cirurgias. Seu coração parou de funcionar por alguns minutos. Os rins também falharam e os médicos disseram que só um milagre poderia salvá-lo. Chegamos a providenciar um jazigo. Quando eu e Adriana terminamos de rezar um pai-nosso, o milagre ocorreu diante de nossos olhos. Daí em diante, tudo correu bem. Quase tudo.

Meu filho não teve mais nenhum problema de saúde grave ou sequela dos traumas pelos quais passou. Parecia que a vida seguiria seu curso com tranquilidade. Na manhã de 3 de abril de 2013, porém, fui informado de que Adriana havia sofrido um acidente automobilístico. Corri o máximo que pude até o local e vi o carro tombado depois da colisão com uma árvore. No hospital, o semblante dos médicos evidenciava: a situação não era nada boa. Em coma, Adriana foi transferida para São Paulo. Apesar dos quase 500 quilômetros de distância de São José do Rio Preto à capital, decidi acompanhá-la. Passava quatro dias com ela e três dias no interior, sendo dois trabalhando e um exclusivamente com Arthur, que ficou aos cuidados de minha sogra. Era uma correria insana, perdi quase 50 quilos. Quando visitava meu filho, no entanto, deixava para trás todo o peso do mundo. Passávamos o dia brincando e sorrindo, enquanto por dentro eu me esfarelava. Até que um dia levei uma facada na alma. “Pai, a mamãe está no hospital porque está doente. E você? Por que vai ao hospital?”, perguntou Arthur. “Para cuidar da mamãe”, respondi. “Mas quem cuida de mim?”, rebateu. Nessa hora, eu me dei conta de que um menino de 4 anos estava sendo mais lúcido do que eu. Aquilo doeu muito fundo em mim e precisei me reinventar novamente. Adequei meu trabalho aos horários da escola dele e juntos viajávamos para visitar a Adriana no hospital a cada quinze dias. Foi assim por mais seis meses, até ela falecer, em julho de 2014. Fui tomado por um sentimento não de tristeza, mas de gratidão e orgulho pela luta dela.

Foram tempos difíceis, mas o sofrimento jamais chegou ao meu filho. Em seu primeiro ano de escola, Arthur me trouxe um presente de Dia das Mães, um bilhetinho e uma flor. “Você não é minha mãe, mas não é só meu pai. É minha família inteira.” Aquilo me comoveu profundamente. Tive de virar pai e mãe, mas não gosto dessa expressão. Eu me considero apenas um bom pai. Tirei uma foto do presente e postei nas redes sociais. A partir de então, milhares de pessoas passaram a nos procurar. Criei os perfis “Tudo pelo meu filho” no Facebook, no Instagram e no YouTube para contar a nossa história. Hoje em dia, fazemos palestras pelo Brasil e recentemente meu livro Deus Conosco foi lançado. Sempre levamos lição de amor, fé e esperança que aprendemos a duras penas. Por causa da pandemia, muitas pessoas estão nos procurando para receber uma mensagem positiva. O sorriso de gratidão, as palavras de retorno que recebo daqueles que nos procuram e, principalmente, o sorriso do meu filho mostram que estou no caminho certo. Como sempre digo: Arthur é meu GPS.

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Rodrigo Leite Segantini em depoimento dado a Luiz Felipe Castro

Publicado em VEJA de 3 de março de 2021, edição nº 2727

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