Desde 1967, quando eu e o meu irmão Celso Vecchione fundamos o Made in Brazil, a banda brasileira mais antiga de rock em atividade, minha missão sempre foi manter acesa essa chama. Por isso, o dia 13 de julho, o Dia Mundial do Rock, também sempre foi especial para mim. No ano passado, mesmo em quarentena, eu não pretendia deixar a data passar sem uma comemoração. Estava bastante animado e não sentia absolutamente nada de estranho com a minha saúde quando me deitei para dormir na véspera. Ao acordar, no entanto, o lado esquerdo do meu corpo estava paralisado. Demorei a perceber, tentei levantar o braço, e ele não se mexeu. A mesma coisa aconteceu com a minha perna esquerda. Me movi na cama e, com muito esforço, consegui me levantar. Mas, quando fiquei em pé, eu desabei no chão. Não sentia nenhuma dor, mas gritei para a minha mulher, Sol, que estava na cozinha preparando o café. Ela veio correndo. De cara, eu suspeitei que havia sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e chamamos o Samu. Em menos de uma hora, eu já estava fazendo uma tomografia e o diagnóstico, infelizmente, confirmava minha suspeita. Aquele foi o Dia do Rock mais triste da minha vida. O assustador disso tudo foi que eu dormi saudável e acordei de outro jeito. Meu primeiro pensamento foi o de que nunca mais conseguiria andar, cantar e tocar baixo com minha banda.
Comecei um tratamento de fonoaudiologia e fisioterapia imediatamente, e passei a tomar uma dúzia de remédios. Os médicos foram realistas: minha recuperação seria lenta. Mas sempre disseram que ainda seria possível recuperar os movimentos do meu corpo. Graças a Deus, em menos de dois meses, eu já havia recobrado o movimento do rosto e podia falar. Mais importante: conseguia cantar normalmente. Foi o suficiente para, sentado em uma cadeira de rodas, voltar aos palcos para fazer dois shows emocionantes no interior de São Paulo, um em Mogi Mirim, cidade onde moro, e outro em Amparo, além de uma live em São Paulo. Ainda continuo sem movimento de um lado do corpo, e nos shows não consigo tocar baixo. Mas toco gaita, percussão e também canto. Fiquei tão otimista com o resultado que até encomendei um novo instrumento – que espero usar bastante no futuro. Hoje, eu dependo da minha mulher para fazer praticamente tudo, como levantar da cama, sentar no sofá, tomar banho, ir ao banheiro e me alimentar. Eu virei um bebezão de 90 quilos. A Sol é a minha vida e eu tenho gratidão a Deus por tê-la ao meu lado.
Minha condição de saúde não está impedindo que eu faça planos para o futuro da banda, que está celebrando 54 anos de carreira e pela qual já passaram mais de 100 músicos. Entre esses planos, está o lançamento do livro História de Uma Banda de Rock Made In Brazil, que terminei de escrever recentemente com 54 histórias do grupo, e que pretendo lançar ainda neste ano. Também já temos um repertório pronto com cerca de catorze músicas inéditas, que vamos gravar em breve em um novo álbum, batizado de Resistência. O título tem muito a ver com o que eu estou passando agora, mas também é um lembrete de como o Made in Brazil sempre foi uma banda teimosa. Nós nos orgulhamos de ter influenciado dezenas de bandas de rock brasileiras e ainda hoje continuar influenciando novos grupos. Meu plano para o futuro, por enquanto, é me manter vivo, respirando. Mas, se Deus quiser, também permanecer cantando. Independentemente da minha saúde, quero continuar na estrada. Enquanto houver tesão e ideias, vou botar tudo para funcionar. Em 13 de julho deste ano, certamente, irei comemorar mais um Dia Mundial do Rock. E prometo que jamais vou deixá-lo morrer.
Oswaldo Vecchione em depoimento dado a Felipe Branco Cruz