Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O humorista Marcelo Adnet pode dar um político do barulho

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 nov 2009, 21h23

Quem já assistiu aos programas 15 Minutos e Furfles, na MTV, deve ter se assustado – e divertido – com a metralhadora verbal do humorista Marcelo Adnet, de 28 anos. É uma rajada atrás da outra. Mas as tiradas abusadas e exageradas não são sua única habilidade. Adnet é também um contundente crítico de hábitos alheios e aponta essa sua arma para todos os lados: desde os jovens universitários que hostilizaram Geyse Arruda por usar um vestidinho curto até – e especialmente – a classe política. “Por que a gente tem de pagar 27,5% de tudo o que faz sem ter uma praça para brincar? A gente é feito de palhaço, mesmo”, dispara. Os 27,5%, vale lembrar, é a aliquota de Imposto de Renda em geral cobrada dos trabalhadores brasileiros.

Diante do quadro da corrupção, Adnet apresenta uma surpresa – ou mais uma provocação. Vai se lançar, ainda em data incerta, na política. Se sua metralhadora continuar funcionando, pode fazer bastante barulho. “Só pagar imposto e ficar quieto é complicado”, explica. Em cartaz no teatro com duas peças – Z.É., Zenas Improvisadas, que acaba de entrar em recesso no Rio, e Comédia ao Vivo, em São Paulo, em que divide o palco com a namorada e também humorista, Dani Calabresa -, ele conversou por telefone com a reportagem de VEJA.com. Leia a seguir os principais trechos da conversa.

O nome do programa Furfles vem de uma música sua. Qual foi a inspiração?

É uma canção que fiz como crítica a todas as músicas em inglês que a gente ouve e canta sem ter a menor ideia do que querem dizer. A música surgiu durante uma brincadeira no programa 15 Minutos, o público gostou e mandou e-mails comentando. Estava chegando a época do VMB (Vídeo Music Brasil, premiação anual da MTV), e eu tive a oportunidade de estender a música para um formato pop, de dois a três minutos, e apresentar no evento, com diversos artistas cantando (confira o clipe abaixo). A letra não diz nada. O termo “Furfle feelings” não é nada, é um exemplo daquilo que a gente canta sem saber o que significa. A maioria dos jovens hoje não sabe o que diz a música da Lady Gaga que toca no rádio. A gente vive em uma época de falta de valor total. De liberdade total. E a liberdade, quando é demais, sem trabalho, sem batalha, fica meio louca. A gente vê o mundo ficando bem louco. Um monte de gente doida, gritando “p…” para uma menina que usa vestido curto, matando gente no trote da faculdade. Mas a música até que é uma crítica leve, apenas para lembrar que o Brasil teve uma grande riqueza musical e hoje a gente consome música americana barata, com um batidão e uma pessoa gritando alguma coisa em cima.

A função do humor é criticar?

Não necessariamente. Mas hoje vivemos em um país em que há total falência da crítica popular. O povo não consegue se unir para criticar, só consegue se juntar para protestar no futebol. Por que não faz isso com outras coisas? Por que a gente tem de pagar 27,5% de tudo o que a gente faz, tem que trabalhar quatro meses por ano de graça, sem ter uma praça para brincar? A gente é feito de palhaço, mesmo. O que é maravilhoso para o governante e para o traficante de arma e de droga, que devem morrer de rir quando o governo diz que a culpa do tráfico é do usuário. Mas o usuário não deixa a droga passar no aeroporto. O usuário não está ganhando dinheiro com isso nem com o fuzil que entra no país. A falta de crítica popular é um prato cheio para a corrupção. Então, quando surge um programa como CQC (da Band), que faz crítica na TV, eu acho positivo. Eu acho que o humorista tem hoje uma função de ombudsman da sociedade. E eu acho ótimo se isso puder acontecer. Mas a função do humor não é criticar sempre. A função primordial do humorista não é prestar serviço público, é fazer graça. Tem humor que joga torta na cara. Mas eu, pessoalmente, me interesso pelo humor crítico.

Esse interesse todo por política pode levá-lo a uma nova carreira?

Sim. Como eu tenho certeza de que eu não iria entrar na política para ganhar dinheiro, mas para tentar fazer coisas positivas, e para provar para mim mesmo que é possível, eu penso em experimentar a carreira política. Talvez me candidatar a vereador ou deputado, algum cargo legislativo. Eu gostaria de provar a mim mesmo que dá para fazer algo. Porque só pagar imposto e ficar quieto é complicado. Mas é uma ideia para um futuro indefinido, não sei quando vai rolar.

Você disse certa vez que chegou a brigar na escola, em 1989, com colegas simpatizantes de Fernando Collor de Mello, enquanto você era Lula. Você brigaria hoje?

Continua após a publicidade

Pois é. Um menino escreveu “Collor” no chão. Eu fui, peguei um giz e escrevi Lula do lado. Ele me empurrou, eu empurrei de volta, e a gente acabou indo para a coordenação, falar com a diretora. Quando cheguei à sala da coordenação, tinha um adesivo do Collor colado na mesa da diretora. Eu falei, “Opa, essa eu vou perder”. Hoje, é claro que eu sou um grande decepcionado com o Lula. Ainda não sei em quem vou votar no ano que vem, mas eu sou um cara que gosta de votar. Não gosto de anular, não, acho uma grande furada. Entre o mau e o menos mau, melhor escolher o menos mau. Não votar é deixar que decidam por você. Isso não é legal.

Você citou há pouco o CQC. Além deste, que outros programas de humor você acompanha?

Atualmente, eu não consigo acompanhar muita coisa. Vejo pela internet, quando tenho um tempo livre. O CQC é uma iniciativa ótima, acho que todo mundo concorda que foi bom para expandir a nossa noção de humor. Temos humoristas talentosíssimos, gente muito engraçada no Brasil. E estou feliz com o momento da MTV, que abriu portas para tantos humoristas. Só tem uma coisa que me incomoda no humor da TV, que é ver a mulher ser usada como objeto. É difícil de entender um programa de humor com três mulheres dançando atrás, de biquíni enfiado. Isso dá uma pirada na cabeça das meninas, que acabam entendendo que, para fazer sucesso, não precisam estudar, não precisam pensar, não precisam ser independentes. Só precisam ser gostosas e desavergonhadas. Eu não acho a menor graça nisso. Tem um machismo muito louco aí, difícil de entender.

Você está se referindo ao Pânico?

Isso acontece no Pânico, mas também em outros programas. Até no Faustão tem as dançarinas no fundo. É um modelo que eu não entendo. Não é uma crítica velada minha. Eu só não consigo entender como isso acompanha o humor. Com relação ao Pânico, eu gosto de algumas coisas e de outras, não. Mas isso fica em um campo muito pessoal, o dos meus gostos. Eu respeito muito o humor deles, acho que tem ótimos comediantes por lá.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.