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‘O Hobbit’: Peter Jackson e a multiplicação de histórias

Diretor do fenômeno ‘O Senhor dos Anéis’ busca inspiração em outras obras de Tolkien para transformar um livro de menos de 300 páginas em três grandes produções – e multiplicar por três as possibilidades de lucro da nova franquia

Por Otavio Cohen
8 dez 2012, 08h08

Lá se vão 17 anos desde que o diretor neozelandês Peter Jackson cogitou pela primeira vez levar para as telas o livro O Hobbit, de J. R. R. Tolkien. A longa espera chega ao fim em 14 de dezembro, com a estreia da trilogia inspirada no romance que marcou a história da literatura fantástica, em 1937. Apesar da boa notícia, os fãs de Tolkien – que motivados pela chegada da franquia recolocaram O Hobbit na lista dos mais vendidos – ainda se perguntam como um livro tão pequeno pode render três superproduções, cada uma delas candidata a blockbuster.

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A edição mais recente de O Hobbit, da Martins Fontes, tem 298 páginas. Para efeito de comparação, só A Sociedade do Anel, primeiro volume de O Senhor dos Anéis, tem 434 páginas – a saga ainda tem outros dois volumes. Quando Peter Jackson anunciou que a aventura de Bilbo Bolseiro nos cinemas seria contada em três filmes, o primeiro deles baseado em apenas 90 páginas da história, logo se suspeitou de uma estratégia para aumentar a rentabilidade do projeto. É claro que não deixa de ser verdade. A trilogia O Senhor dos Anéis fez 2,9 bilhões de dólares em bilheteria no mundo, e O Hobbit, voltado tanto para o público que consumiu a primeira franquia como para quem está chegando agora ao universo de Tolkien, pode ir além.

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Mas Jackson garante que tem conteúdo para mostrar. Em entrevistas recentes, um dos argumentos que usa para justificar o tamanho da franquia é o de que Tolkien narra grandes eventos em poucas páginas, e no cinema essas cenas podem ser mais desenvolvidas e enriquecidas de detalhes. Segundo a crítica americana, que já assistiu ao filme, ele tem batalhas incríveis, cavernas fantásticas e personagens que escapam da morte por um triz ao estilo James Bond. Outro argumento é que o enredo de O Hobbit é prelúdio de O Senhor dos Anéis – algo como os três filmes de Guerra nas Estrelas lançados a partir de 1999, que contam a história cronologicamente anterior à trilogia dos anos 1970 e 80. Para fazer a conexão entre uma série e outra, Jackson escalou histórias e personagens que nem aparecem no livro O Hobbit, caso de Frodo (Elijah Wood), primo do herói da obra, Bilbo Bolseiro (Martin Freeman).

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De fato, basta olhar para o legado de Tolkien para concluir que assunto a ser explorado não falta. Além de ter criado um universo quase infinito, o autor deixou questões em aberto em suas obras. Ao assumir de vez a trilogia, o neozelandês Jackson, que já havia assinado a direção de O Senhor dos Anéis, também prometeu responder a algumas dessas questões. Como o fato de o mago Gandalf (Ian McKellen) desaparecer repentinamente durante a viagem que faz com Bilbo e os anões rumo à Montanha Solitária. Os filmes devem explicar essas ausências, que acontecem várias vezes, inserindo na história encontros de Gandalf com o mago Saruman (Christopher Lee) e com a elfa Galadriel (Cate Blanchett). De quebra, vai ser possível justificar a presença desses dois personagens, que não são sequer citados nas páginas de O Hobbit.

Outro personagem que deve ser enxertado em O Hobbit é Legolas (Orlando Bloom), filho de Thranduil (Lee Pace), um personagem importante no livro.

O Hobbit – Uma Jornada Inesperada conta o início da grande aventura do hobbit Bilbo Bolseiro. Como os outros de sua espécie, ele é pequeno (tem metade da altura de um humano comum), guloso e fã da tranquilidade de sua terra natal, o Condado. Mas a paz de Bilbo é suspensa quando o mago Gandalf o convoca para uma aventura ao lado de um bando de anões. Eles querem retomar a Montanha Solitária, onde viviam antes de serem expulsos pelo dragão Smaug, que também lhes tomou toda a riqueza. Se Bilbo cumprir com sucesso a missão, diz Gandalf, terá direito a uma parcela do tesouro dos anões. O primeiro filme vai contar a viagem do hobbit ao encontro do dragão, até o momento em que ele se perde dos anões e encontra um misterioso anel no interior de uma caverna. O tal anel – sim, aquele mesmo – tem o poder de deixar qualquer pessoa invisível. E Bilbo logo usa essa habilidade para escapar de Gollum, uma criatura monstruosa que vive na caverna.

O retorno do rei – Crises e controvérsias não faltaram à produção do filme – que por si só é uma saga. Escalado para rodar a adaptação do primeiro romance de Tolkien, o mexicano Guillermo del Toro acabou saindo do projeto em 2010, depois de seguidos atrasos na produção prejudicarem a agenda do cineasta. Entre os diretores cotados para substituí-lo estavam Brett Ratner (X-Men-3 – O Confronto Final), Neill Blomkamp (Distrito 9) e David Yates (Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2). Mas a MGM preferiu recorrer novamente a Peter Jackson, que já fazia parte da equipe de roteiristas. Em janeiro de 2011, Peter Jackson enfrentou uma úlcera, que quase atrasou o cronograma de lançamento.

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No comando do projeto, o neozelandês acabou alterando os planos inicias de Del Toro, que eram de lançar dois filmes, em 2011 e 2012. O primeiro contaria toda a história de O Hobbit e o segundo abordaria o espaço de 60 anos que separam as aventuras de Bilbo e de Frodo, o protagonista de O Senhor dos Anéis. A ideia de fazer um filme-ponte, ou seja, que servisse como ligação entre a adaptação de O Hobbit e a de O Senhor dos Anéis, permaneceu de pé por alguns anos. A intenção era boa. Com essa transição gradual, os fãs da trilogia original não se decepcionariam e um público novo poderia entender melhor como uma coisa levou à outra.

https://youtube.com/watch?v=oEOn00N5vgE

Depois que Del Toro deixou o projeto em 2010, porém, muitas águas rolaram nos rios da Terra-Média. A equipe de roteiristas encabeçada por Jackson percebeu que O Hobbit renderia mais que um filme. E o plano de dedicar um longa à transição entre as sagas foi abolido. Em 2010, a MGM confirmou que faria dois filmes, mas ambos sobre Bilbo. Dois anos depois, uma nova surpresa, surgida durante a Comic-Con, em julho. No evento, que serve de vitrine para muitos lançamentos da cultura pop e da indústria do entretenimento, Jackson disse que tinha gostado tanto das primeiras filmagens que iria rodar mais cenas e fazer três longas.

Uma jornada muito esperada – O Hobbit foi publicado em 1937 como uma história infantil, inspirada na mitologia nórdica e em contos de fadas europeus. A história fez tanto sucesso que a editora encomendou logo uma continuação. Em 1954, Tolkien lançou O Senhor dos Anéis, com outras histórias da Terra-Média e novas versões para a origem de personagens e elementos. Nos anos seguintes, o universo de Tolkien ficou muito maior do que a própria Terra-Média. Surgiram novas raças, novas lendas, uma nova mitologia e até novos idiomas – Tolkien era especialista no estudo de línguas e usou seu conhecimento para moldar sistemas completos de linguagem, com escrita e fala, além de hábitos culturais.

Para completar, o autor desenvolveu geografia, história e cosmologia para o seu universo. Isso fez com que a aventura de Bilbo e os anões em O Hobbit se tornasse apenas uma das centenas de tramas na linha do tempo de Eä, nome dado a esse universo fantástico. Quando morreu, em 1973, Tolkien ainda não havia concluído sua obra. Se tivesse terminado, Peter Jackson talvez dirigisse mais uma dúzia de filmes. Material não faltaria.

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