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‘O Discurso do Rei’ é acusado de esconder anti-semitismo de George VI

Um e-mail anônimo circula entre os votantes da Academia apontando ligações do monarca vivido por Colin Firth com ação contra os judeus antes da II Guerra

Por Rodrigo Levino
Atualizado em 5 jun 2024, 18h33 - Publicado em 4 fev 2011, 07h51

Indícios de que o rei que conduziu a Inglaterra contra a Alemanha de Adolf Hitler era, se não um simpatizante do nazismo, ao menos um anti-semita, estariam em documentos oficiais da época liberados pela Casa de Windsor em 2002

O filme O Discurso do Rei (The King’s Speech, Inglaterra, 2010), que tem pré-estreia marcada para este fim de semana no Brasil, amealhou doze indicações ao Oscar 2011 e disparou, a julgar pelo indicativo de premiações recentes, como favorito da cerimônia que será realizada no próximo dia 27, no Kodak Theatre, em Los Angeles.

A amizade entre o rei George VI, interpretado com maestria por Colin Firth, e seu terapeuta da fala Lionel Logue, vivido por Geoffrey Rush, é contada pelo diretor Tom Hooper como uma saga de cumplicidade. Logue, um plebeu australiano de modos largos, torna-se amigo de um rei gago que, pela oratória, precisa manter em alta o moral de seus súditos num momento crucial da história da Inglaterra: a II Guerra Mundial.

Num artigo recente sobre o filme, a revista The Economist discorreu sobre a reação que a produção tem despertado nos ingleses. De orgulho histórico pelo personagem pouco conhecido por mais de dois terços da Inglaterra, nascidos no reinado de Elizabeth II, e de afeição pela figura real que tem sua intimidade exposta e é, assim, humanizada.

Não é a primeira vez que o cinema inglês funciona como catalisador desses sentimentos. A Rainha (The Queen, Inglaterra, 2006), do diretor Stephen Frears, fez o mesmo ao oferecer uma explicação para a hesitação da rainha Elizabeth II em declarar luto pela princesa Diana, morta em 1997 num acidente de trânsito em Paris.

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Ameaça – Mas nem tudo é bonança na corrida do filme pelo Oscar e no orgulho que os ingleses tem sentido por seu rei gago. Nos bastidores da premiação e nos jornais britânicos, ligações do rei George VI com o nazismo são apontadas – e ameaçam minar as chances de vitória do filme. Não é preciso dizer que os fatos históricos que embasam essas alegações sequer são mencionados por Hooper.

Os indícios de que o rei que conduziu a Inglaterra contra a Alemanha de Adolf Hitler era, se não um simpatizante do nazismo, ao menos um anti-semita, estariam em documentos oficiais liberados pela Casa de Windsor em 2002. São menções a documentos que recheiam um e-mail distribuído por um membro da Academia, alertando os demais votantes para a “verdade histórica que não pode ser encoberta” e sobre o qual O Discurso do Rei calaria.

Os papéis tratam do apoio de George VI, numa carta escrita ao seu Ministro das Relações Exteriores, Lord Halifax, à decisão de barrar judeus que fugiram da Alemanha antes do início da guerra, em 1939, e tentaram emigrar para a Palestina, então sob o domínio da Inglaterra. “Estou contente que medidas nesse sentido estejam sendo tomadas para impedir que pessoas que abandonam seus países entrem em nossos territórios”, disse o rei. “É preciso alertar a Alemanha para verificar melhor a sua imigração.”

O antecessor – Ajuda ainda a criar desconfiança sobre George VI o currículo de seu irmão, Edward VIII, a quem ele sucedeu. Político “egoísta, estúpido e vaidoso”, nas palavras do ensaísta britânico Christopher Hitchens, Edward, com o primeiro-ministro Nerville Chambelain, que viria a renunciar em 1940 para dar lugar a Winston Churchill, manteve durante anos relações de simpatia com a Alemanha nazista – a seu ver um baluarte contra o avanço do comunismo. Ressalte-se, nesse ponto, a origem alemã dos Windsor, que mantiveram até a I Guerra Mundial a nomenclatura germânica Saxe-Coburgo-Gota.

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Edward, de tão afoito, depois de passar o trono ao irmão, partiu num périplo pela Europa já como Duque de Windsor na companhia da amante com quem fora impedido de casar pelo fato de ela ser divorciada, a americana Wallis Simpson. A lua de mel incluiu cumprimentos a Hitler, em Munique, encontro fartamente documentado.

É de se perguntar se as manchas na biografia do rei George VI, que de alguma maneira contribuiu para o massacre dos judeus na II Guerra, serão vingadas 60 anos depois numa premiação de cinema. Ou se ele será definitivamente entronizado na mente e no coração dos ingleses.

Confira o trailer do filme:

https://youtube.com/watch?v=fwfKpM502HQ

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