“Yokohama está destruída. Do mar às colinas de Kanagawa, com a exceção de uma única casa que ergue desajeitadamente perto da estação de trem de Sakunagicho seu bloco luminoso de cerâmica, tudo está vazio.” O escritor Paul Claudel, então embaixador da França em Tóquio, descrevia o cataclismo de 1º de setembro de 1923. Esse terremoto de magnitude 7,9 na escala Richter fez 142.807 mortos e desaparecidos em Tóquio e arredores.
O balanço provisório do terremoto e do tsunami que atingiram o Japão há uma semana já chegou a mais de 5.000 mortes confirmadas. A expectativa é de que o número ultrapasse 10.000. O escritor, embaixador no Japão de 1921 a 1927, havia feito um relato comovente intitulado O Desastre Japonês sobre o que foi uma das grandes tragédias dos tempos modernos. A revista Lectures publicou o livro em janeiro de 1924. Paul Claudel percorreu a região atingida pelo terremoto para socorrer os 300 moradores franceses do porto de Yokohama e partiu à procura de sua filha, que encontrou sã e salva.
Tóquio, 1º de setembro de 1923. “Tudo tremeu. Foi algo tão aterrorizante ver ao meu redor a terra mexer como se enchesse de repente de uma vida monstruosa e autônoma”, escreveu Paul Claudel. “Minha antiga embaixada se debatia entre seus pilares como um barco amarrado”, acrescentou.
O futuro acadêmico usava palavras simples e frases recolhidas em seus relatos com mais de duzentas páginas ilustradas com desenhos à tinta da China. “Os incêndios começaram. De todos os lados, colunas de fumaça se erguem, a água foi cortada, os hidrantes esmagados sob as ruínas, o vento sopra forte, é um tufão que passa neste momento sobre a capital.”
Nove horas mais tarde, o embaixador Claudel conseguiria chegar ao porto de Yokohama, “uma grande cidade que queimava sob seus olhos completamente” com tanques de petróleo em chamas, com labaredas atiçadas por ventos violentos que carbonizavam casas de madeira. “Um vapor ardente flutua sobre um depósito (de petróleo) que atiça ainda mais (…) os últimos sopros do tufão que definha.”
Ao avançar, ele descobriu “uma avenida cheia de destroços e cadáveres, corpos e mais corpos, alguns sem roupas, sem pele, formas vermelhas e pretas retorcidas como gravetos. Um odor insuportável de matéria queimada e cadáveres”. Perto do consulado da França desmoronado, se podia “assistir a cenas violentas, comuns nestes tipos de catástrofes: um pai que acabava de ver sua filha ser queimada viva em sua frente; uma criança de dois anos abandonada, com as duas pernas queimadas”.
Paul Claudel relata os dias que sucederam o terremoto em Tóquio, “onde já se mobilizava um povo humilde e trabalhador. Cada um chega com sua picareta, sua cesta, seu punhado de arroz, sua madeira, seu tecido, sua folha de zinco e em todas as partes se erguem pequenos abrigos tão frágeis quanto casulos”.
(Com agência France-Presse)