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Nobel revelado: ‘Brancura’ apresenta obra do recém-premiado Jon Fosse

Novela prova a força da prosa do norueguês, embalada pela fantasia e pelo humanismo

Por Diego Braga Norte Atualizado em 7 nov 2023, 14h42 - Publicado em 28 out 2023, 08h00

Embora poucas pessoas no Brasil já tenham lido o norueguês Jon Fosse, 64 anos, muitas certamente já ouviram seus textos nos palcos. Ele é hoje o dramaturgo mais encenado do planeta, contabilizando mais de 1 000 montagens nas últimas décadas, inclusive no país. E, apesar de multipremiado e traduzido em mais de cinquenta idiomas, o autor ainda não tinha livros editados em território nacional: estava restrito aos leitores mais literatos e ao pessoal do teatro — que o liam em línguas estrangeiras. O Prêmio Nobel que Fosse recebeu no início de outubro muda, obviamente, suas obras da prateleira de livros importados para a vitrine principal. Dono de uma vasta e eclética produção, Fosse já escreveu mais de setenta livros entre romances, contos, poesias, ensaios e peças teatrais desde sua estreia, no início da década de 1980. Agora, semanas após ser agraciado pela Academia Sueca, ele começa a ter sua obra editada no Brasil.

Brancura

BRANCURA, de Jon Fosse (tradução de Leonardo Pinto Silva; Fósforo; 64 páginas; 59,90 reais e 49,90 reais em e-book)
BRANCURA, de Jon Fosse (tradução de Leonardo Pinto Silva; Fósforo; 64 páginas; 59,90 reais e 49,90 reais em e-book) (./.)

Um belo exemplo é a novela Brancura, mais recente lançamento de Fosse depois de uma septologia que o catapultou definitivamente à condição de clássico contemporâneo. Narrado em primeira pessoa, o texto conta a história de um homem (não há menção a seu nome) que decide se embrenhar numa floresta desconhecida após sair dirigindo a esmo por estradinhas de terra. O carro encalha, a noite está caindo e o clima está esfriando. O homem sabe que o mais sensato é manter-se aquecido e seguro dentro do veículo até o dia seguinte. Mas ele ignora a razão e sai em uma caminhada rumo ao desconhecido.

A escrita objetiva, despojada de adornos e palavras difíceis, conduz os leitores para dentro da história tomados por uma única curiosidade: aonde essa caminhada vai dar? A tradução direta do norueguês fez bem ao preservar a oralidade do texto, uma das marcas do autor. “Para mim, escrever é ouvir, não ver”, já disse ele. O narrador parece brincar com essa proposital leveza narrativa. “Escuto o silêncio. Talvez seja só maneira de falar. E, se agora tenho de me manter longe de alguma coisa, é de metáforas.”

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A aparente simplicidade do relato funciona de moldura para envolver os leitores em uma história onírica e espectral, com ecos da descida ao inferno de Dante Alighieri. O clima de sonho (ou pesadelo) se faz presente em toda a narrativa, com toques de fantasia e absurdos bem à moda de Samuel Beckett — Fosse é frequentemente comparado ao irlandês e também a outro grande autor, seu compatriota Henrik Ibsen. O texto na orelha do livro afirma que a obra é uma “porta de entrada” à literatura do Nobel nórdico. Mas, pela brevidade das pouco mais de sessenta páginas, funciona mais como fresta para os leitores vislumbrarem, em escala reduzida, alguns temas caros ao autor, como família, fé e a finitude da vida. Terminada a leitura, fica a vontade de ler mais.

A escrita como faca e outros textos

Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2023, edição nº 2865

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