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“Nada Será Como Antes”: os primórdios da TV, segundo a Globo

Série tem muito de fantasia, mas é realista no essencial: nos bastidores, tudo continua uma festa

Por Marcelo Marthe
25 out 2016, 17h26

Perto do colorido da cidade cenográfica de Caminho das Índias (2009) ou do lixão naturalista de Avenida Brasil (2012), a ambientação da série Nada Será Como Antes é espartana. Ainda assim, sua reprodução das dependências de uma emissora de televisão dos anos 50 atraiu uma romaria de funcionários da Globo. “Nunca vi um set tão visitado pelos empregados da TV. Todos nos identificamos”, diz o diretor artístico José Luiz Villamarin. A identificação não decorre só do que se vê naquele estúdio vintage, mas de certo elemento imaterial: a expectativa de encontrar na série um espelho das relações entre as pessoas que fazem a TV. Nos três episódios já exibidos nas noites de terça-feira (e em um quarto disponível para streaming no Globo Play), Nada Será Como Antes atende a essa expectativa. Sim, a tecnologia evoluiu e as relações se profissionalizaram. Mas, no que diz respeito à natureza humana, a série de Guel Arraes e Jorge Furtado não deixa dúvidas: tudo continua como antes.

O programa se vale de licenças poéticas ao tratar da era do teleteatro, quando a dramaturgia era encenada ao vivo. Na TV real daquele tempo, o improviso e a carência de recursos imperavam. Na série, o teleteatro semanal dá lugar a uma versão diária e luxuosa de Anna Karenina, romance do russo Leon Tolstoi (1828-1910), com direito a uma locomotiva dentro do estúdio.

Ao contrário de Hollywood ou da TV americana, a Globo raras vezes se animou a fazer ficção sobre seu universo (uma exceção foi Espelho Mágico, trama metalinguística de 1977). “Nossa TV fala pouco de si mesma, apesar de sua importância na vida brasileira”, diz Arraes. A série quebra a regra — e o faz com providencial sinceridade: de galãs enrustidos a estrelas chiliquentas, está tudo lá. “Nossa história é ficção, mas personagens assim sempre existiram”, diz Furtado. É, pois, com conhecimento de causa que a série fala de figuras como a atriz Verônica (Débora Falabella), ex-­mulher do dono da fictícia TV Guanabara, Saulo (Murilo Benício). Ela se exaspera ao constatar que está envelhecendo no ar. Faz o ex (que segue caído por ela) mudar a história clássica de Tolstoi, só para se contrapor à mocinha que rouba a cena, Beatriz (Bruna Marquezine). “Os bastidores continuam parecidos. É muito interessante”, diz Arraes.

Com provocativo destemor, a série fala ainda do famigerado “teste do sofá” — a prática de barganhar papéis por favores sexuais. Beatriz, ex-prostituta, usa a relação erótica com o patrocinador Otaviano (Daniel de Oliveira) para arranjar emprego na novela. Aliás, hora de ir ao que interessa: Bruna Marquezine. Tal como sua personagem, a estrela favorita de Neymar abocanha a cena. Beatriz não é mera caricatura de uma arrivista. Ela tem índole, digamos, libertária: emendou uma noite na qual ensinou certa prática muito especial ao amante Otaviano com uma manhã na alcova da irmã dele, Julia (Letícia Colin). Antes, as duas haviam trocado um beijo lésbico. Acredite: além de fogo, há drama e muita dignidade em Beatriz.

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Bruna Marquezine obteve o papel certo na hora certa. Sophie Charlotte era a primeira opção para a personagem, mas saiu do projeto ao engravidar (seu marido é o mesmo Daniel de Oliveira que faz o amante rico de Beatriz). “Bruna merecia ganhar uma personagem desse tamanho”, diz Villamarin. Ninguém reclama da sabotagem da cegonha. A seleção natural na TV é assim.

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