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Na crise, livrarias menores nadam contra a maré e abrem 56 novas lojas

Redes oferecem espaço e experiência diferenciada, enquanto ocupam vácuo deixado pelas gigantes Saraiva e Cultura, especialmente em shoppings

Por Tamara Nassif Atualizado em 6 jan 2021, 10h23 - Publicado em 5 jan 2021, 15h09

Já em crise antes mesmo da pandemia, as livrarias enfrentaram ainda mais empecilhos em 2020. Contra as expectativas, novas lojas surgiram no segundo semestre do ano. Segundo levantamento da empresa de mercado Yandeh, ao menos 56 novos estabelecimentos foram inaugurados, entre grandes e pequenas do segmento – mais da metade em shoppings.

Uma das razões para esse novo fôlego vem justamente da outra ponta: a crise de grandes redes, como Cultura e Saraiva, ambas imbricadas em processos de recuperação judicial e risco de falência. As pioneiras no modelo de megastore no país deixam um mapa de mercado a ser redesenhado por causa de uma expressiva vacância de endereços. A Saraiva, por exemplo, iniciou o ano com 74 lojas e terminou com menos da metade. Fechadas as unidades, a demanda por livrarias pesou o outro lado da balança e abriu espaço para que novas redes se instalassem no lugar. É o caso da mineira Leitura, hoje líder do segmento, que já ocupa dez lojas anteriormente pertencentes à Saraiva e que pretende somar mais 16 unidades neste próximo ano ao montante de 80. Só em 2020, a rede fez oito inaugurações.

Outras lojas também vêm ganhando destaque, em especial as de rua, como as recém-inauguradas Megafauna, no Copan, em São Paulo, e Janela, no Rio de Janeiro. As já tradicionais Livraria da Vila e Livraria da Travessa, além da Livraria da Tarde e Mandarina, se mantêm de pé e no azul – a da Vila, por exemplo, ocupou um espaço deixado pela Saraiva do shopping paulistano Eldorado. Em comum, compartilham a receita de espaços acolhedores com encontros de ideias e clientela nichada, de forma a criar um outro tipo de experiência de consumo.

Livrarias menores, de fora do eixo Rio-São Paulo, se somam à tendência, como a curitibana A Página, que, além de expandir operações no Sul, inaugurou a primeira unidade em solo paulista no Shopping SP Market (mais uma substituindo um endereço vazio deixado pela Saraiva). “Apesar de ainda não sermos uma marca referência em São Paulo, enxergamos a cidade com um potencial gigantesco de crescimento”, diz Gilmar Cosmo, diretor da rede em entrevista a VEJA. “A concorrência em São Paulo é muito saudável e o mercado não pode voltar a ser centralizado na mão de poucas livrarias.”

Dona de dez lojas no Sul, em pontos como Curitiba, Foz do Iguaçu, Cascavel e Joinville, a rede espera inaugurar mais dez até o final de 2021 devido aos bons ventos de 2020. O sucesso foi alavancado pela conexão entre lojas físicas e virtuais, com lives de eventos que normalmente tomavam curso em livrarias. O resultado é uma média de quase 2.000 livros vendidos por dia no e-commerce da rede – uma tendência que deve vir para ficar. Boa parte da receita que mantém o mercado editorial de pé durante a pandemia vem de plataformas virtuais. Se em 2019 as livrarias físicas representavam 50% do faturamento do setor, enquanto a presença online beirava os 18%, segundo pesquisa do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), a expectativa é que a internet em 2020 tenha invertido essa equação e conquistado mais da metade da fibra.

Esse movimento vem como um embate de frente a mastodontes como Amazon e Magazine Luiza, que instauram uma difícil concorrência por terem fôlego financeiro o suficiente para jogar preços lá embaixo. “É impossível para uma livraria física, que tem altos custos, competir com canais on-line apenas no preço”, disse Marcos Pereira, presidente do SNEL, em entrevista a VEJA em dezembro. O diferencial está em conectar a experiência de uma livraria – que vai desde ambientação acolhedora e cafés in loco a aconselhamento de livreiros e eventos literários – à facilidade do comércio eletrônico. Claro que, como 2020 veio para provar, muitas dessas vivências são insubstituíveis, mas o esforço em transformar palestras e sessões de debate em lives, à exemplo da Página, deu resultado.

O ano, no entanto, deixou sulcos nas finanças de livrarias menores e independentes, que se viram postas na berlinda quando não conseguiram presença expressiva nas redes. Algumas iniciativas surgiram para prestar auxílio aos mais prejudicados pela dinâmica mercadológica, como o Projeto Retomada, uma vaquinha entre a SNEL, Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Associação Nacional de Livrarias (ANL) que mobilizou 530.000 reais revertidos para aliviar as contas.

Entre ônus e bônus, o saldo geral se mostra positivo. Se o começo de 2020 arrepiou a espinha de livreiros – e de quase todos do varejo – pelo fechamento de estabelecimentos comerciais e queda de boa parte do faturamento, o desfecho dele veio como uma luz no fim do túnel. Ao que tudo indica, 2021 carrega esperança – de vacinas contra o coronavírus e de novos ares no mercado editorial.

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