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MV Bill culpa governo e pessoas por Covid na favela: “Mau comportamento”

Rapper carioca lança nesta sexta-feira, 30, seu novo disco, 'Voando Baixo', com críticas ao descaso do poder público aos moradores de comunidades

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 abr 2021, 18h25 - Publicado em 29 abr 2021, 16h09

Nascido e criado na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, o rapper MV Bill, de 47 anos, sempre pautou seu trabalho com denúncias contra a ausência do poder público nas comunidades carentes. Em seu novo trabalho, o álbum Voando Baixo, que chega às lojas nesta sexta-feira, 30, a indignação ganha mais um alvo: o descaso com a saúde durante a pandemia e os efeitos nefastos nas favelas. Logo no início da pandemia, antes de lançar o disco, o rapper lançou o single Quarentena, em que pedia para as pessoas, especialmente a comunidade nas favelas, ficarem em casa e usarem máscara.

Em entrevista a VEJA, o cantor, que também é escritor, ativista social e produziu o documentário Falcão – Meninos do Tráfico (2006), fala sobre a realidade atual das favelas e não se surpreende com a falta de atenção do governo com os mais pobres. “A pandemia só veio para explicitar essa realidade”, afirma. A saída, segundo ele, é não esperar soluções do poder público e mobilizar os moradores em prol deles mesmos. É o que ele canta, por exemplo, na faixa Noiz Mermo. “O título da música é uma gíria sobre auto-representação, muito conhecida nas comunidades”, explica. Embora incisivo em suas composições, o 12º álbum de MV Bill também reserva espaço para canções românticas, como em Sintonia Real e no Calor da Emoção, que falam sobre a alquimia sexual de um casal. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Você é nascido e criado na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Como vê hoje a atuação do estado nas favelas? Hoje eu não moro mais na favela. Mas moro bem perto e antes da pandemia eu ia todos os dias na Cidade de Deus. Meus amigos e a minha mãe ainda moram lá. Vejo as pessoas falando do descaso atual com as favelas. Mas esse descaso é antigo. Algumas gestões fazem menos descaso, outras fazem mais. A verdade é que a favela, desde o começo da sua existência, é o próprio retrato da falta de atenção dos governantes. A pandemia só veio para explicitar ainda mais isso. A pandemia até pode estar desenhando ainda mais esse desequilíbrio social, mas isso nunca foi segredo para ninguém. A gente sempre soube que a favela seria mais vulnerável a qualquer coisa: frio, chuva, vento, dengue e, agora, o coronavírus. 

Você perdeu amigos ou familiares para o Coronavírus? Perdi muitos amigos da música, pessoas da arte, pessoas próximas e da Cidade de Deus. Vi de perto o estrago que a doença fez e está fazendo. É muito triste perceber que algumas pessoas, mesmo vendo as outras morrerem ao seu redor, ainda assim, não acreditam. Se negam a usar máscaras, querem abraçar, cumprimentar com as mãos. 

No ano passado, você lançou o single Quarentena, alertando as pessoas a usarem máscaras, lavar as mãos e manter o distanciamento social. Manter todas essas medidas de segurança é mais difícil nas favelas? Na música eu faço um alerta para as pessoas nas favelas. Se elas também não tiverem um comportamento que cuide de suas próprias vidas e dos seus, elas vão estar entregues à própria sorte. Eu peço na música para que elas fiquem em casa o máximo que puderem, mas entendo também quem precisa sair para trabalhar. O ideal é que todos tenham o máximo de proteção, inclusive a caminho do trabalho. A verdade é que há um comportamento errático dos dois lados. Muita gente no governo negou a existência do vírus e não agiu de maneira correta ou da maneira mais rápida. Vimos muitos playboys fazendo festinhas particulares em condomínios, mas também vimos muitas festas nas favelas, bailes funk e festas nas ruas. Há um mau comportamento de todas as partes no pior momento. A situação hoje está mais grave do que há um ano. Paradoxalmente, as pessoas estão mais descrentes e mais descuidadas com a doença. 

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Na música Noiz Mermo você diz que a única saída está em nós mesmos. O que falta para a periferia despertar? Essa é a grande pergunta. A gente leva tapa na cara, é enforcado, esganado. O que falta para a gente despertar? A periferia tem que apostar neles mesmos. O Brasil tem que contar com os favelados, com os pretos, com os indígenas e também com os brancos. Não basta você ser contra o racismo. Você tem que ser antirracista. Algumas pessoas estão vivendo na “gozolândia”, curtindo iate, praia, cachoeira e ficam alheias aos problemas. Hoje, não dá para uma pessoa dizer que não gosta de política. A política rege a sua vida. Se a gente discorda de algo, a força está com quem? Em nós mesmos. A gente não pode continuar depositando nossa esperança de mudança no outro que não nos entende. Precisamos apostar em nós mesmos.  

A Cidade de Deus está melhor hoje do antigamente? Acho que melhorou o aspecto cultural, mesmo na pandemia tem surgido bastante músicos novos em diversas áreas. Também na área política, muitos jovens estão começando a protagonizar mudanças e entendendo que se envolver é uma forma de mudar as coisas lá dentro. Por outro lado, tem coisas que não mudam. Tem confronto de polícia com bandidos. Isso acontece também em outras comunidades. Infelizmente isso é uma cultura do Rio de Janeiro. A quantidade de jovens que veem no tráfico de drogas uma forma de ascensão ainda é grande. Enquanto essas coisas continuarem acontecendo, não dá para dizer que está tudo bem e que a favela venceu. 

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