Ser salva por um príncipe ou passada para trás por uma madrasta má são elementos descartados no atual cânone de tramas com princesas da Disney. As mocinhas de vestido longo que cantarolam a plenos pulmões também lutam, se aventuram e são responsáveis pela própria sobrevivência. Merida, de Valente, e Elsa, de Frozen, são alguns bons exemplos recentes. Moana, protagonista da nova animação do estúdio, chega aos cinemas não para reiniciar a discussão das mudanças de padrão, mas sim para colocar o último prego neste caixão. Os tempos mudaram, as princesas também.
A jovem polinésia é ousada, destemida e, apesar da cintura fina, exibe uma silhueta mais robusta que suas antecessoras. Incumbida de substituir o pai no governo de um povoado, Moana reluta contra a função de ficar estagnada em um só lugar, eternamente em uma ilha, enquanto um mundo de oportunidades pode ser explorado mar afora. Desejos de encontrar um grande amor ou brilhar em um baile pomposo nem são citados na produção.
Ela recebe outra missão, maior e mais nobre que a liderança de um povo, vinda de uma entidade, por assim dizer, bastante substancial: o oceano. Moana sai do conforto de sua ilha e navega ao encontro do atrapalhado semideus Maui. Juntos, eles devem restaurar uma ordem quebrada por ele no passado, em prol de toda a natureza.
A jornada revela as demais características principescas que serão mantidas ainda por muitos anos, como musicais elaborados, a presença de animais fofos e os movimentos graciosos da garota de longos e lindos cabelos enrolados. A escolha entre o que pode ou não ser quebrado nos padrões ficou a cargo de uma mistura de gerações na direção. Os veteranos John Musker e Ron Clements são conhecidos por clássicos como A Pequena Sereia (1989) e A Princesa e o Sapo (2009) — filme, aliás, que marca o início das mudanças das protagonistas femininas da Disney. O cineasta codirigiu Moana ao lado de Don Hall, vencedor do Oscar de animação em 2015, pelo divertido e jovial Operação Big Hero (2014).
O resultado é o típico filme para toda família que a Disney sabe fazer como poucos. Fora do Brasil, Moana já soma mais de 400 milhões de dólares em bilheteria. Sua trilha sonora chegou ao topo da lista da Billboard entre os discos do tipo mais vendidos nos EUA. Como dá para perceber, os príncipes que nos perdoem, mas as princesas não precisam mais deles para fazer sucesso — na verdade, nunca precisaram.