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Mentiroso, farsante: a incrível história do autor de ‘A Mulher na Janela’

Daniel Mallory, que teve seu livro recentemente adaptado no filme de sucesso da Netflix, tem um passado bizarro que daria um thriller de arrepiar

Por Marcelo Canquerino 3 jun 2021, 16h47

A vida do autor de A Mulher na Janela, thriller de sucesso com Amy Adams na Netflix, também daria um ótimo filme de suspense. Em sua biografia, não faltam situações absurdas. De certa forma, Daniel Mallory, nome por trás do famoso pseudônimo A. J. Finn, tem muito em comum com uma figura famosa da literatura e do cinema: o golpista que protagoniza o delicioso romance O Talentoso Ripley, da dama da ficção criminal Patrica Highsmith. Tirando a parte dos assassinatos do livro lançado em 1955 pela autora americana, ambos são bonitos, charmosos e, sobretudo, mentirosos. Muitos ex-colegas de trabalho de Mallory, inclusive, faziam essa comparação, segundo o jornalista Ian Parker – que, em 2019, assinou uma longa reportagem investigativa para a revista norte-americana The New Yorker sobre a vida e as mentiras do autor. De doutorados falsos até cânceres que nunca existiram, Mallory construiu sua trajetória como autor best seller em torno de farsas. 

Na época em que a matéria de Parker foi publicada, um ano após o sucesso do livro A Mulher na Janela, Mallory deu uma declaração admitindo vagamente algumas mentiras e dizendo que grande parte delas havia sido resultado de um suposto transtorno bipolar tipo II, que teria sido diagnosticado em 2015, e de depressão. Uma rápida busca no Google mostra que mentir não é sintoma das doenças de que o autor disse sofrer, o que também foi confirmado por especialistas ouvidos pela reportagem do The New Yorker

THRILLER - Amy Adams em A Mulher na Janela: uma homenagem apaixonada a Alfred Hitchcock -
THRILLER - Amy Adams em A Mulher na Janela: uma homenagem apaixonada a Alfred Hitchcock – (Melinda Sue Gordon/Netflix)

Quando o livro de Mallory foi a leilão em 2016, muitas editoras americanas cobiçaram os direitos de publicação. Mas o que seria uma disputa acirrada para saber quem teria em mãos a próxima mina de ouro dos thrillers psicológicos acabou bem rápido: metade das editoras desistiu do leilão ao descobrir o nome por trás do pseudônimo. Esse pé atrás com Mallory faz sentido quando se conhece os lances cabeludos que permearam a vida do escritor e editor. 

A espiral de mentiras do autor começou ainda na universidade. A relação de Mallory com a obra de Patricia Highsmith sempre foi, de maneira não irônica, muito intensa. O fascínio com o livro O Talentoso Ripley levou-o a iniciar um doutorado em Oxford que nunca foi finalizado — o que não o impediu de se dizer doutor e inventar mais uma mentira sobre outro doutorado em síndrome de Munchausen, que nunca existiu. 

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Cena do filme 'O Talentoso Ripley' (1999)
Cena do filme ‘O Talentoso Ripley’ (1999) (VEJA.com/Divulgação)

A bola de neve de absurdos tornou-se realmente chocante com as mentiras que o autor contava sobre doenças. Em sua carta de admissão para o doutorado em Oxford, ele disse que a mãe, com câncer, e o irmão, que teria fibrose cística e doenças mentais, haviam morrido na época. Os dois não só estão vivos, como acompanhavam Mallory em viagens publicitárias. A mãe chegou a ter um câncer de mama grave quando Mallory era adolescente, mas conseguiu se curar. As mentiras sobre o câncer não ficaram restritas à família. O autor já disse que ele mesmo tinha um tumor no cérebro inoperável e em 2013 desapareceu para operar um tumor na coluna que poderia deixá-lo paralítico. Nenhuma foi a surpresa de seus colegas de trabalho quando o viram, semanas depois de uma suposta cirurgia cheia de complicações, perfeitamente bem. 

Nem mesmo Tina Fey e J. K. Rowling escaparam das mentiras. Uma biografia oficial de Mallory dizia que ele tinha trabalhado na edição do livro de Tina Fey, o que foi desmentido pela assessoria da atriz. E não foi graças à recomendação de Mallory que O Chamado do Cuco, de J. K. Rowling, chegou às livrarias, como ele dizia. As mentiras foram parar até na indústria do cinema, já que James Wong, diretor de Premonição, precisou vir a público dizer que o autor nunca tocou no roteiro do filme, apesar de realmente ter estagiado na New Line Cinema, produtora do longa.

A biografia indecorosa de Daniel Mallory não apenas parece coisa de roteiro – em breve, ela deverá chegar às telas de verdade. Como Hollywood não é boba, a matéria de 2019 da The New Yorker ganhará uma adaptação para série com Jake Gyllenhaal no papel principal, segundo o site especializado Deadline. Agora, basta esperar para ver se a história será um êxito tão grande quanto A Mulher na Janela.

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